História vocacional - Monsenhor Jonas

Cantai ao Senhor, porque Ele fez prodígios

No dia 8 de dezembro, dia da Imaculada Conceição, celebramos o aniversário sacerdotal de monsenhor Jonas Abib.  Conheça a história vocacional desse grande servo de Deus, contada por ele mesmo:

Em toda minha história de vida, Deus fez prodígios

A Palavra de Deus nos diz duas coisas: para sermos santos e irrepreensíveis. É por meio do amor d’Ele que conseguiremos isso. O Senhor nos predestinou, já de antemão, já na eternidade, para sermos santos e irrepreensíveis, filhos adotivos conforme a Sua vontade.

No Evangelho, destacamos Maria, que interrogou o anjo e este lhe respondeu: “Não temas, Maria! Encontraste graça diante de Deus” (Lc 1, 30). E tudo isso nós festejamos hoje. Você, que ama a Canção Nova, está festejando conosco.

A liturgia escolheu para cantarmos, várias vezes, o Salmo: “Cantai ao Senhor um canto novo” (Sl 97). Eu posso dizer, hoje, que Deus fez maravilhas em minha vida.

Confira o vídeo na íntegra:

O cuidado de Deus através das irmãs

Recordo-me bem quando, na escola, a Madre Superiora foi, de sala em sala, perguntando aos alunos: “O que você quer ser quando crescer?”. Quando chegou a minha vez, eu disse: “Eu quero ser padre”. Não falei por falar, mas falei com convicção. Não sei o que aconteceu depois, mas, às vésperas da minha ordenação, a Superiora Geral das irmãs contou-me que, naquele dia em que havia visitado a escola, a Madre Superiora lhe disse: “Cuidem bem daquele menino. A resposta que ele deu não foi por ele. Não foi a resposta de ser padre, porque muitos meninos dizem que querem ser padre, mas foi o que ele respondeu, porque a resposta não foi de um menino da idade d’Ele. Cuidem desse menino!”, disse a madre. Eu, no entanto, não me lembro o que disse a ela.

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Missa Aniv Ordenação

Monsenhor Jonas celebra Missa em ação de graças pelos 51 anos de sacerdócio/Foto: Wesley Almeida/CN

 

As irmãs seguiram “ao pé da letra” a recomendação da madre. Uma das coisas que elas providenciaram foi para que houvesse Missa toda semana na escola. Bateram à porta do Liceu Sagrado Coração de Jesus e o padre Martineli prontificou-se a ir à escola.

A Missa dele era muito animada. Nós adorávamos! Após a celebração, ele fazia uma catequese, mas tão animada que ficávamos arrebatados. Ele passava a manhã todinha com a gente.

Padre Martineli pediu que as irmãs arrumassem um campo de futebol para os meninos. Então, elas cortaram um milharal e o transformaram num campo. No entanto, o mais importante era o entusiasmo com que o padre fazia todas as coisas. Por isso eu disse: “Quero ser padre como esse padre”.

Quando terminei o curso primário, não tinha mais para onde ir, porque o colégio era só até o quarto ano primário. O chamado ginásio para frente, já eram todos pagos. Minha família era pobre, não tinha nenhuma possibilidade de eu entrar num colégio desses.

As irmãs, no entanto, estavam de olho nisso. Não só elas cuidaram de mim quando eu estava no colégio, como me pegaram e perguntaram: “O que você está fazendo?”. Eu disse: “Nada!”. “Você não vai estudar?”, perguntaram elas. Eu apenas as olhei e elas entenderam. Então, foram falar com meu pai e o convenceram.

Meu pai me levou ao Liceu Sagrado Coração de Jesus. Olha só as ligações de Deus! Era onde estava o padre Martineli. “Eu quero ser padre, como esse padre”. Lá também havia as escolas profissionais. Eu passava o dia todo lá. Nós pagávamos, mas era uma mixaria.

Também nesse período eu me tornei coroinha, e eram muitos padres, por isso, muitas Missas. Naquele tempo, cada padre celebrava sua Missa, não se pensava em concelebração. Eu era um dos coroinhas; precisava estar às 7h da manhã, bem arrumado, com sapato especial.

Os dois sacos de roupa suja

Um dia, o senhor José Pinto, que tomava conta dos coroinhas, chegou em mim e disse: “Como é, rapaz, você vai ou não ser padre?”. Eu fui ousado e perguntei: “Mas quem contou para o senhor?”. Eu não havia contado isso para ninguém, a não ser para a irmã. Agora, esse homem chega, à queima roupa, e me diz isso! Ele respondeu: “Foram as irmãs”. Eu pensei: “Benditas!”.

Para você ser padre, disse o senhor, está aqui marcado o enxoval que você vai precisar para o seminário. Eu peguei aquele papel e mostrei para minha mãe. Vi, então, no rosto dela, a resposta. Ele só me disse que depois nós conversaríamos com meu pai.

Papai chegou e, após o jantar, minha mãe conversou com ele. Depois, eles me chamaram e disseram que não tinham condições, porque, além das camisas e das calças para o enxoval, a lista dizia que eram necessários dois sacos de roupas usadas. “Nós não temos condições. Se somarmos as suas roupas e as do seu irmão, não dá nem um saco”, disse minha mãe. Eu pedi a bênção ao meu pai e à minha mãe e fui para o meu quarto. Chorei a noite inteira, porque era o sonho de um menino.

A partir daí, comecei a evitar o senhor José Pinto. Mas, um dia, ele me pegou e disse: “Como é, rapaz, já conversou com seu pai?”. Eu expliquei para ele a situação, disse que já seria difícil conseguir as roupas, mas aqueles dois sacos de roupa usada, não tinha condições!”. Ele riu e disse: “Não, rapaz! Não é isso! Na sua casa, sua mãe lava, aos poucos, a roupa que ficou suja. No seminário não tem jeito, porque é muita roupa! Você coloca a roupa suja no saco e, no fim de semana, manda para a lavanderia; então, coloca o outro saco. Escrevemos roupa usada para não dizer roupa suja”.

Eu ri! Cheguei em casa e contei para minha mãe, que riu também.

Uma doença inexplicável

Quando eu já estava no último ano do seminário, peguei uma doença inexplicável, uma dor de cabeça intermitente. Fui ao oftalmologista, mas ele não encontrou nada que pudesse justificar a dor de cabeça e a visão turva. Fui desde o clínico geral até a psiquiatra para descobrir o que havia comigo.

Já estava no seminário há 12 anos, era exigido muito de nós. Estudávamos em tempo integral e a nota mínima era 7. Era muito puxado! Mas, por causa da doença, tive de sair de lá. Mais uma vez, o meu sonho caiu.

Uma noite, peguei um Evangelho de bolso (naquele tempo não era costume). Eu o abri e caiu na passagem de Mateus 16: “E vós, quem dizeis que eu sou?”. Aquela pergunta foi para mim, caiu sobre mim! E você Jonas, quem você diz que eu sou?”

Já havia feito o seminário por 12 anos, mas um defronte assim com Jesus eu nunca tive antes. Terminei ajoelhado no chão, entregando minha vida, minha situação e saúde, tudo para Jesus. Na hora, não senti nada de especial, mas depois houve um impulso muito grande dentro de mim. Fui ao meu superior e disse: “Eu posso ser ordenado ainda este ano?”. Ele disse que se eu fizesse os exames do primeiro semestre, poderia ser ordenado”. Eu me agarrei naquela oportunidade. Dependia de mim.

Peguei os apontamentos dos meus colegas. Estudava com dor de cabeça, com os olhos lacrimejando, porque a visão era opaca. Até que chegaram os exames e eu os fiz, exame por exame. Os professores escolheram fazer teste oral e isso me ajudou muito! Mas, por outro lado, os professores tinham a oportunidade de perguntar tudo. Ele me sabatinaram mesmo!

Graças a Deus, eu tirei 7,5. Não foram as notas que eu estava acostumado a tirar, mas eu poderia ser ordenado. Era a vitória, era o menino chegando ao pódio e dizendo: “O Senhor fez prodígios!”. Tudo o que eu vivi, nesses 50 anos de sacerdócio, foram só prodígios.

Transcrição e adaptação: Sandro Arquejada

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