Não me lembro de nenhum momento da minha vida em que não quisesse ser padre. A história sempre teve mulheres e homens que tiveram a coragem de fazer o anúncio da salvação. Em mim, ainda novo, também nascia timidamente essa coragem.
Mas como ocorria com os profetas, foi preciso enfrentar toda espécie de dor e sofrimento pela missão. E cada um deve seguir o impulso da sua vocação, por mais dura e complexa que ela seja. Foi o que aconteceu comigo.
Pela vocação, tive que deixar minha casa. Quando meu pai me levou, aos doze anos, para o Seminário Salesiano em Lavrinhas (SP), vi em seus olhos o alegre consentimento para que eu vivesse minha vocação; ao mesmo tempo, a sombra triste e saudosa da despedida que se aproximava.
Meu pai, homem simples e profundamente trabalhador, homem digno, um exemplo de luta e dedicação, estava ali, aprovando minha decisão de entregar a vida a essa linda causa de ser sacerdote do Senhor.
Naquele seminário, vi meu pai comungar. Fiquei atento à sua expressão de fé, na fila da Eucaristia, parecia um gesto de assentimento à minha vocação sacerdotal. Seu filho então começava a construir sua própria história. E ele havia me abençoado e me emocionado com sua comunhão.
Meus olhos se enchem de lágrimas quando me recordo do esforço e apoio do meu pai para que me tornasse sacerdote. As notas de dinheiro cobertas de pó de cimento, economizadas por meu pai para que eu pudesse comprar o cálice de ordenação, foi um símbolo.
Eu vi naquele gesto todo o trabalho dele como pedreiro, durante tanto tempo. Tudo resumido naquele bolinho de dinheiro, embrulhado em papel de saco de cimento. Quando comprei o cálice, não tive dúvidas, mandei gravar a seguinte inscrição: Jonas, queremos estar presentes em todas as suas Missas. E o nome dos meus pais: Sérgio e Josefa. Fui formado pelo carinho e honradez do meu pai. Não teve nenhum destaque social, mas realizou a missão dele.
As vocações são diferentes: uns saem para seguir o chamado de Deus, outros ficam para realizar a missão que Ele lhes confiou. Minha vocação foi sair de casa para enfrentar o seminário e hoje ser padre. Mas se a sua vocação é ficar na sua casa como pai e como mãe de família, você precisa realizá-la e bem.
A vida não é feita somente de momentos leves, há também os momentos mais pesados, mais dolorosos, e da dor se pode extrair lições que acabam fortalecendo mais a nossa fé. Agradeço por aquilo que Deus fez a partir do meu sim. Seja fiel ao que Ele lhe pede, com certeza, Ele também será fiel.
Monsenhor Jonas Abib