“Os tristes dizem que os ventos gemem, os alegres acham que cantam” (Zalking Platigorski)
Dostoiévski, escritor que marcou uma época e gerações, tem personagens que identificam bem isso. Num ensaio teatral de um de seus textos, uma das personagens se acomodou com o fato de que o mundo era assim mesmo e que nada o melhoraria. Ela começou a monologar e, vendo que a rotina das injustiças sociais continuava, resolveu desistir.
A Igreja não servia, pois o clero era pecador. A política não prestava, todos eram corruptos. O homem era muito contraditório… Sabe no que ela começou a crer? No suicídio. E o mais grave é que, durante o bom tempo de sua interpretação, ator e personagem se confundiam e davam argumentos maravilhosos sobre o que deveria ser a “magnífica experiência da morte, opção dos pobres”. É o cúmulo da síndrome de quem não acredita em mais nada.
Conformou-se com o desânimo
Conformou-se: tomou a forma.
Quem sofre da “Síndrome do Deus-Quis-Assim” tem a terrível tendência de ver a vida cheia de justificativas negativas, camufladas em bom senso. As coisas parecem seguir uma rotina que não tem jeito. Muitas vezes, as pessoas contaminam a sua mente e seu coração com suas palavras; não imaginam a força que as palavras têm… Dizem para si mesmas palavras de desânimo, palavras de medo, de aflição, e registram tudo em sua mente (interessante: o inconsciente não tem passado nem futuro; para ele tudo é presente, tem tudo gravado, programado como num computador). O tempo é algo criado pela mente humana; na verdade, o que existe é um eterno presente, apenas o hoje e o agora.
E as pessoas vão se entristecendo, se desanimando, vivendo, frequentemente, com a cara de “cemitério”. Você já conheceu alguém com cara de “cemitério”? Na infância, tive um colega com o apelido de cemitério. Ele tinha seríssimos problemas nos rins e as consequências de suas dores e das noites que passava em claro eram suas olheiras. Na época, para os meninos, era o apelido adequado para ele, mas quantos cristãos há com cara de cemitério, o reflexo do coração? É algo real. Seu semblante fala do que está cheio o seu coração.
“Mas eu tenho muitos problemas”. “Eu também, respondo, e são grandes os problemas”. Não estou minimizando o seu problema, e, justamente porque temos grandes problemas, assumo com muito respeito as dificuldades que você enfrenta, mas também não vou ficar chorando com você. Sempre digo aos que são de responsabilidade minha, em formação humana e pessoal: “Os problemas são meus, mas minha cara é dos outros”. Mesmo enfrentando os problemas, você pode ter uma cara boa. A beleza não vem da maquiagem, do penteado, da lente azul ou verde, mas do interior; a questão é o semblante.
Se soubessem como esse meu coração encontra-se dolorido! As pessoas mais íntimas sabem disso. O interessante é que: quanto maior é a dor, por mais que eu queira esconder, meus olhos lacrimejam e ficam mais bonitos, mas tudo isso é questão de treino. Eu não sou extraordinário, sou comum, ordinário! Você pode ser igual. É questão de treino. Deus não “pula para fora” de sua vida nos momentos difíceis, ao contrário, Ele o carrega nos braços.
Deus permanece com você no momento das dificuldades
Talvez, você conheça o poema Pegadas na Areia, que deu moda sertaneja e fez algumas pessoas sonharem que estavam na praia com o Senhor, enquanto no céu passavam cenas de suas vidas. Mas quando no sonho Jesus mostrava os momentos sofridos de dor, morte, infortúnios, as maiores tribulações, a pessoa percebia que havia na areia apenas um par de pegadas e, aborrecida, perguntava ao Senhor: “Senhor, Tu me deixaste… Por quê? Não compreendo! Nas horas em que mais necessitava, Senhor, me deixaste”. E o Senhor, sorrindo, respondia: “Meu filho, jamais o deixaria nas horas de sofrimento. Quando você viu na areia apenas um par de pegadas, foi exatamente aí que Eu o carreguei nos braços”.
Mesmo com sua vida carregada de problemas, sua alegria vem de Deus. Por isso, seus olhos podem estar muito mais bonitos nas tribulações da vida. Por maior que sejam as tribulações e os problemas, eles são passageiros.
Seu irmão,
Monsenhor Jonas Abib