“O Senhor é muito bom para com todos” (Sl 144).
Mais uma vez a liturgia nos coloca diante das bem-aventuranças. Não as entendemos perfeitamente, mas elas são tão profundas que quanto mais as conhecemos, mais temos de conhecê-las.
Não fomos feitos para esta terra, estamos aqui de passagem. Está se criando em nós o homem novo e essa vida é o tempo que Deus nos dá para que a criatura nova se forme em nós. Claro que, enquanto isso, vamos vivendo entre alegrias, dores, problemas e situações difíceis, mas tudo isso é a matéria-prima que Deus coloca diante de nós para que a mulher nova e o homem novo se formem. Se no final de nossa vida, a criatura nova estiver em nós, ganhamos a razão de nossa existência. É por isso que o Senhor precisou nos apresentar as bem-aventuranças, porque somos cidadãos do céu e é para lá que precisamos ir.
Se fôssemos deste mundo e vivêssemos para ele, o mundo nos abraçaria. Mas como não o somos, o mundo nos aborrece. Somos cidadãos do céu e é lá que vamos viver; aqui só estamos de passagem. Nós precisamos ter esta verdade cada vez mais diante de nossos olhos.
São Lucas nos apresenta as bem-aventuranças dessa maneira: “Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus!” (Lc 6,20). A pobreza não é uma coisa má, pois se for vivida com dignidade será uma bem-aventurança. Neste mundo de consumismo, o mundo nos pega por todos os lados e acabamos querendo tudo. As crianças, por exemplo, só pensam em comprar. Nós corremos um grande risco de ser pessoas que vivem para este mundo, de onde nós não somos, e nos esquecer de nossa verdadeira pátria, pois somos cidadãos do céu.
Os ricos vivem para os bens deste mundo, já os pobres não têm este problema porque não têm nada para administrar. Jesus disse: “Ai de vós, ricos, porque já tendes vossa consolação!” (Lc 6, 24). Eles correm um grande perigo de não viver o essencial por causa do essencial a que estão apegados aqui.
“Bem-aventurados vós que agora tendes fome, porque sereis saciados!” (Lc 6,21). Jesus não está falando apenas da fome de alimento, mas também da fome de Deus, da fome do céu. Se estivermos saciados com os bens deste mundo, não sentiremos fome de Deus e aí está o grande perigo. “Ai de vós que agora rides, porque tereis luto e lágrimas” (Lc 6,25). Não é um luto aqui da terra, mas do céu, porque essas pessoas não vão ter aquilo que é a finalidade da vida: o céu. Aqueles que forem condenados, lá [no inferno] haverá choro e ranger de dentes como ensina a Palavra.
A Palavra de Deus está nos alertando de como devemos viver. “Bem-aventurados sereis, quando os homens vos odiarem, vos expulsarem, vos insultarem e amaldiçoarem o vosso nome, por causa do Filho do Homem! Alegrai-vos, nesse dia, e exultai pois será grande a vossa recompensa no céu; porque era assim que os antepassados deles tratavam os profetas.” (Lc 6,22-23). Se não estamos apegados aos bens deste mundo, já somos bem-aventurados.
Jesus diz: “Ai de vós quando todos vos elogiam! Era assim que os antepassados deles tratavam os falsos profetas” (Lc 6,26).
Que durante o dia de hoje, deixemos essas palavras caírem sobre nós e pensemos sobre o que seremos daqui para frente.
A primeira leitura de hoje vem nos mostrar também o porquê da bem-aventurança: “Esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres. Pois vós morrestes, e a vossa vida está escondida, com Cristo, em Deus. Quando Cristo, nossa vida, aparecer em seu triunfo, então vós aparecereis também com Ele, revestidos de glória“ (Cl 3,1-4). Esta passagem está falando da segunda vinda de Jesus. “Portanto, fazei morrer o que em vós pertence à terra” (Cl 3,5). Aí está nossa luta pelas bem-aventuranças porque entendemos que conquistá-las é ganhar o Reino dos Céus, mas para isso, precisamos passar por tudo o que Deus nos reserva sem murmurar, sem reclamar. O Senhor está cuidando de tudo para nós.
“Já vos despojastes do homem velho e da sua maneira de agir e vos revestistes do homem novo, que se renova segundo a imagem do seu Criador” (Cl 3,9-10). Meus irmãos, é essa transformação que precisa acontecer conosco.
Precisamos lutar muito contra o nosso homem velho, abandonar a ira, a irritação, a maldade, a blasfêmia e as palavras indecentes. Precisamos nos desvestir desse homem velho e nos revestir do homem novo, que é a imagem do nosso Criador. É essa transformação que precisa acontecer conosco, pois somos bem-aventurados.
Senhor, eu quero viver como verdadeiro bem-aventurado, na felicidade de saber que não sou desta terra, mas estou nela conquistando o meu destino.
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.