No Evangelho de São João, capítulo 6, versículos 22 a 71, encontramos o discurso a respeito do Pão da Vida. Jesus antecipa aos discípulos o maravilhoso tesouro que iria nos deixar: Aquele que come a minha carne e bebe o meu sangue tem vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeira comida e o meu sangue verdadeira bebida. Aquele que come a minha carne e bebe meu sangue permanece em mim e eu nele (id. 6, 54-56).
Depois de ouvirem as palavras de Cristo, os apóstolos murmuraram: Essa palavra é dura! Quem pode escutá-lo? (id. 6, 60b). Não foi o povo quem disse isso, muito menos os escribas, os fariseus, os doutores da lei, nem mesmo os judeus contrários a Jesus: quem disse isso foram os discípulos, escolhidos para seguir o Senhor. Aqueles que Jesus havia mandado à Sua frente, para pregar e operar milagres.
Depois do que foi dito pelo Senhor, muitos dos seus discípulos se retiraram e deixaram de andar com ele (id. 6, 66). Isso significa que foram embora, não acompanharam mais o Senhor. Poderíamos até dizer: esse foi um momento de crise dentro do ministério de Jesus. Ele corria o risco de perdê-los, depois de prepará-los e formá-los.
Portanto, se não fosse realmente isso que Jesus estava querendo dizer que Seu corpo é verdadeira comida e Seu sangue verdadeira bebida com certeza Ele os teria chamado de volta e explicado que se tratava apenas de uma linguagem simbólica, espiritual… Mas Cristo não voltou atrás. Era verdadeiramente aquilo que Ele queria dizer, apesar de Seus discípulos não aceitarem.
Alguns discípulos não tiveram a paciência de esperar. Se esperassem, um pouco, entenderiam que o Senhor lhes daria o Seu corpo e o Seu sangue na forma de pão e de vinho, pois foi isso que Ele realizou na Última Ceia.
Diante dessa situação, Jesus questionou os Doze: E vós, não quereis partir? (id. 6, 67). E correu o risco, desafiou os apóstolos. É como se Ele dissesse: Eles foram embora, porque não quiseram aceitar: acharam muito. Vocês também querem ir embora? Eu não posso e não vou voltar atrás, pois é isso mesmo que vou fazer: dar a minha carne como comida e o meu sangue como bebida. Porque a minha carne é verdadeira comida e meu sangue verdadeira bebida. Vocês querem ir embora também?
Pedro logo respondeu: Senhor, a quem iríamos? Tu tens palavras de vida eterna.
Pedro e os apóstolos permaneceram ao lado do Messias. Pela graça de Deus, nós também permanecemos com Pedro e com os apóstolos: permanecemos com a Igreja, que acreditou nas palavras de Jesus Cristo ao pé da letra: A minha carne é verdadeira comida e o meu sangue, verdadeira bebida. Aquele que come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele.
Não podemos ser como os discípulos que se afastaram: acharam essa doutrina muito dura. Ou ainda, como aqueles que celebram a ceia, mas não acreditam que Jesus está realmente presente na Hóstia Consagrada, não acreditam que Ele está renovando o Seu sacrifício em cada Santa Missa.
Embora não consigamos entender, com a nossa inteligência, essa maravilha que Jesus fez, nós ficamos com Pedro e com os apóstolos. Permanecemos com a Igreja e professamos: A quem iríamos, Senhor? Somente tu tens palavras de vida eterna. Cremos e sabemos que tu és o Santo de Deus.
Jesus falou em carne para não pensarmos que se tratasse de um símbolo ou semente de um espírito. O Senhor disse isso claramente e ainda insistiu: A minha carne é verdadeira comida e o meu sangue verdadeira bebida. Aquele que
come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. E especificou bem: A minha carne é verdadeira comida e o meu sangue verdadeira bebida, não era apenas símbolo.
Ele deixou claro: Eu não me dou apenas espiritualmente, Eu me dou verdadeiramente. O mesmo corpo que foi estraçalhado na cruz e que hoje está diante do Pai, é o corpo que Eu lhes dou. O mesmo sangue que foi derramado na cruz, pela sua salvação, Eu hoje lhes dou, para que tenham a vida eterna e para que ressuscitem Comigo no último dia.
Trecho retirado do livro ‘Eucaristia nosso tesouro’