No dia 3 de setembro de 1949, eu partia para ingressar num seminário salesiano em Lavrinhas (SP). Estava inteiramente decidido, mas não foi fácil deixar minha casa, meu pai, minha mãe, meu irmão e, principalmente, a primeira das minhas irmãs, que na época tinha apenas um ano de idade.
Quando fui me despedir da minha irmã, ela estava no berço: me debrucei e a beijei. Nesse momento as lágrimas desceram… foi muito difícil. Quando a minha mãe viu que eu estava chorando, fez sua última tentativa: Você não precisa ir, se não quiser. Fique, meu filho. O seu pai já está lá embaixo, mas não faz mal, a gente recolhe a mala e dispensa o carro. Você não vai se não quiser ir. Mas eu aguentei. Segurei as lágrimas e fiquei firme. Saí pela porta, desci a escadinha de casa e entrei no carro sem olhar para trás, porque se olhasse correria o risco de ficar.
Agradeço muito a Deus pelo meu “sim”, um sim de menino. Naquela época, eu tinha doze anos. O costume era ir para o seminário com essa idade. Pelo fato de ter ido tão novo é que consegui fazer tudo o que Deus quis na minha vida. Hoje posso afirmar com certeza: Foi o Senhor quem me chamou, quem me escolheu tão cedo. E, graças a Deus, eu aceitei.
É preciso reconhecer as consequências das nossas decisões. Se eu não tivesse dado o passo naquele momento a Comunidade Canção Nova não existiria.
O Senhor realiza grandes obras a partir de um simples “sim” que damos. Desde a minha decisão foram quinze anos inteiros no seminário. Estudei muito e mais do que isso: foram longos anos de formação.
Eu coloquei o pouco que eu tinha nas mãos de Deus e Ele o multiplicou. Ele devolveu o cêntuplo a mim e à minha família. Pelos meus irmãos e irmãs, pelo meu pai e minha mãe eu só posso dar graças a Deus. Ele ainda me deu uma família tão vasta como as areias da praia do mar: toda a Canção Nova e uma multidão de pessoas que me têm como pai. O Senhor cumpre Suas promessas. Agradeço por aquilo que o Todo-poderoso fez a partir do meu “sim”. Seja fiel ao que Deus lhe pede; com certeza, Ele também será fiel.
A minha vida comprova a realização dessa promessa. Ainda não cheguei ao fim da minha missão, mas já recebi o cêntuplo. A Canção Nova é a demonstração muito concreta de que Deus cumpre as promessas d’Ele: o cêntuplo nesta vida.
O que eu fiz foi corresponder à vocação que o Senhor me deu. Deixei-me conduzir e fui dando os passos, primeiro, como menino, depois como seminarista e mais tarde como um jovem padre. A graça foi sempre corresponder à vocação. Vejo que aqui está a palavra-chave: corresponder. Hoje, a minha maior riqueza são as pessoas que o Senhor me deu: tantos jovens que teriam inúmeras possibilidades na sociedade e optaram por entregar sua vida a Deus na Canção Nova.
Sempre fico atordoado diante dessa multidão de jovens que resolvem consagrar a vida a Deus na Canção Nova. Alguns se casam, constituem família, mas na Canção Nova. Muitos seguem seus estudos no seminário. Outros se consagram inteiramente ao Senhor como celibatários. Temos também os que são consagrados na Comunidade de Aliança. São diferentes estados de vida dentro de uma mesma consagração. Sempre me pergunto: Quem sou eu para receber tudo isso?. Mas esse é o cêntuplo que o Senhor me dá ainda nesta vida. É como eu me expresso na letra desta música:
Lembro-me perfeitamente da noite em que compus essa música. Foi a minha oração depois de um dia extenuante. Música e letra saíram juntas. Era minha vida colocada em música naquela oração. Era a minha vocação vivida naquele dia e apresentada a Deus na oração da noite. Não posso negar: Tudo te entreguei, nada me restou… Tudo me pediste, nada eu te neguei hoje eu sou feliz assim… É o cêntuplo que Deus já me deu. Posso atestar: o Evangelho acontece. O que Jesus promete Ele realiza. O único segredo é viver a própria vocação. Esse é o segredo da fidelidade. Esse é o caminho da realização.
De seu irmão
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