O Senhor quer nos mostrar, no Evangelho de hoje, que existem dois caminhos. O primeiro é o da misericórdia àqueles que erraram e também aos que são errados. É preciso seguir esse caminho com os que erram, mas perdoar de coração os errados. Claro que não é para “deixar a coisa como está, para ver como é que fica”.
Quantos de nós somos errados! Se não estamos errados de vez, estamos no caminho do erro. Quantos de nós não acabamos criando problemas para o marido, para a mulher, para os companheiros? Pergunte a você mesmo: “Eu sou alguém que erra ou sou alguém errado? Do que é que eu preciso: misericórdia ou justiça?” O segundo caminho é o da justiça.
Quando Pedro perguntou a Jesus quantas vezes ele deveria perdoar o irmão, o Senhor lhe disse: Setenta vezes sete. Isto não quer dizer que você deva perdoar 490 vezes, mas que precisa ter um coração misericordioso, tendo compaixão para com o errado. Quantas vezes o errado é um filho ou uma filha, que o faz sofrer tanto! Quantas vezes aquela que erra é a sua esposa! O que você vai fazer? Jogar tudo no lixo? Claro que não! O que você precisa é ter um coração manso e humilde, semelhante ao de Jesus. Ele não é justiça, Ele é misericórdia.
“Jesus, manso e humilde de coração, fazei o meu coração semelhante ao vosso”.
Foi por causa da justiça que Jesus contou uma parábola (Parábola do servo cruel)sobre um homem que a praticou, sem usar de misericórdia com o seu próximo. Havia um homem que devia tanto ao rei que não tinha como pagá-lo. O rei, então, deu ordem aos seus vassalos que o colocassem na prisão com trabalhos forçados, e se fosse preciso, que colocasse toda a família dele também, até que ele, com a esposa e os filhos, pagassem todas as dívidas. Como estas eram enormes, eles nunca deixariam de ser escravos. O homem, então, se joga no chão, e o rei vendo-o se humilhar, prostrado no chão, pratica a compaixão e perdoa a dívida dele. (confira Mateus 18, 23-35).
Perdoado desse jeito, com essa generosidade imensa, pelo rei, o homem sai e logo depois encontra um companheiro que lhe deve alguma coisa, mas que nem se comparava ao que ele devia ao rei. Contudo, o homem agarra o companheiro que lhe devia apenas algumas moedas e começa a sufocá-lo, dizendo: “Pague o que me deves”. O companheiro lhe suplica: “Dá-me um prazo e eu te pagarei”. Mas o empregado não quis saber de nada, mandou jogá-lo na prisão até que pagasse o que devia. Ele seguiu o caminho da justiça. Vendo o que havia acontecido, os outros empregados contaram tudo ao rei. Este mandou chamar o homem e lhe disse: “Empregado perverso, eu te perdoei toda a tua dívida, porque tu me suplicaste. Não devias tu também, ter compaixão do teu companheiro, como eu tive compaixão de ti? O patrão indignou-se e mandou entregar aquele empregado aos torturadores, até que pagasse toda a sua dívida” (Mt 18, 32-34).
Padre Léo gostava de dizer que perdoar significa “doar com tudo”, ou seja, doar sem medida, perdoar tudo. Por isso, a palavra perdoar já traz em si a misericórdia, ela nem olha o quanto o outro deve, apenas o perdoa, sem olhar a quantidade.
A misericórdia de Deus é infinita. Parece que o Senhor deixou de lado a justiça para usar só de misericórdia. Se você tem dúvida disso, leia o “Diário de Santa Faustina”. Nele, você verá que Jesus quer e precisa que os homens encontrem o caminho da compaixão, porque Ele nos perdoa sem medidas. É assim que o Senhor está nos tratando, mas cada um segue o caminho que quiser. Você quer seguir o caminho da justiça? Deus lhe dá toda a liberdade de fazer isso. No entanto, se você escolheu esse caminho, será tratado assim por Ele também.
Existe também o caminho da misericórdia. Se você escolher este caminho, muitas vezes, vai se achar tolo, bobo, idiota, mas se você escolher o que Deus escolheu, o que Ele estabeleceu para os tempos de hoje, Ele vai ser coerente e vai tratá-lo também com misericórdia. A justiça de Deus não é “errou, leve um castigo”. Se você é uma pessoa brava demais e acha que tem razão por ser estúpida do jeito que é, você é errado. Deus não trata você do mesmo jeito, especialmente nos tempos de hoje, tempo da misericórdia. O Senhor nos trata com compaixão. Ele se compadece de nós, e por sentir a dor em Si, Ele tem misericórdia e nos perdoa, mesmo que sejamos errados.
Dom Bosco foi maravilhoso ao explicar que o castigo não forma, só deforma, faz o ruim ficar ainda pior, criando-se apenas revolta. Uma pessoa revoltada é terrível, cria-se algo dentro dela que acaba fazendo com que realize coisas que nós nem poderíamos imaginar.
Se você escolheu o caminho da misericórdia, Deus está usando dela para você também. Se você continua teimando e usando da justiça, Deus vai tratá-lo, especialmente no encontro final, com justiça.
Quem de nós não é pecador? Mas o tempo da misericórdia é agora. Foi isso o que Deus revelou a Santa Faustina, em cada página do Diário dela, no qual o Senhor está revelando a misericórdia d’Ele. Foi por isso que João Paulo II canonizou a tantos e fez sua primeira Carta Encíclica chamada “Deus, rico em misericórdia”.
Vamos aproveitar essa chance, mas precisamos ser coerentes, se Deus nos trata com misericórdia, precisamos tratar também os nossos irmãos dessa maneira, porque o Senhor é coerente com a nossa escolha.
“Senhor, eu já escolhi. Eu sei que vou errar várias vezes, mas já escolhi o caminho da misericórdia. Usa comigo a sua compaixão. Eu preciso dela, Senhor”.
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.
Padre Jonas Abib