Cantando a vida eternamente

No acampamento de Ano Novo, no sábado cedo, eu fiz a primeira palestra onde mostrava Jesus no Horto das Oliveiras numa oração muito intensa. Os evangelistas mostram que a agonia de Jesus era tão forte, por causa daquilo que eo Senhor iria passar, que Ele chegou a suar sangue.

No Evangelho de São Marcos, vemos que Jesus se refere ao Pai como “Aba”, uma expressão muito forte de amor e carinho, um pedido com a certeza de que vai ser atendido. Ele diz a Deus: “Aba, tudo é possível para ti. Afasta de mim este cálice, mas seja feita a sua vontade”. Já Mateus, no Evangelho nos mostra que Jesus se refere ao Pai da seguinte maneira: “Se é possível, afasta de mim este cálice, mas não seja feito como eu quero, mas como tu queres”. Já São Lucas expressa uma total obediência: “Se queres, afasta de mim este cálice”. Jesus era Deus, mas assumiu a nossa humanidade, por isso Ele estava angustiado, mas obedeceu ao Pai numa verdadeira submissão.

Jesus tinha três sentimentos dentro dele, que são expressos por cada um dos três evangelistas. Se São Marcos expressa toda confiança colocando “Afasta de mim este cálice”, São Mateus já mostra logo o “se possível”. Jesus sabia que o Pai queria o seu sacrifício, mas na sua humanidade ele sentiu pavor, medo e angústia. Jesus se colocou num total abandono nas mãos do Pai. Era uma rendição total

Muitas pessoas podem nos perguntar: “Nós não pedimos insistentemente e por tanto tempo o milagre da cura do padre Léo? Sim, e eu fiz isso até o último momento e até sete dias atrás eu mantive esta idéia. Havia dentro de mim esta certeza de salvá-lo, pois tudo é possível ao Pai e eu que Ele curasse o padre Léo. Mas, na quarta-feira, quando soube que o padre Léo estava na UTI, algo aconteceu em mim. Toda aquela confiança de fé que estava em mim, caiu. Eu tentei mantê-la e coloquei essa expressão ao Senhor “Aba, Pai”. Mas as coisas realmente haviam mudado dentro de mim e Deus colocou no meu coração: “O tempo acabou. Agora eu vou levar o padre Léo”.

Foi o momento mais difícil da minha vida nos últimos tempos, mas eu tive de me render, abandonar-me nos braços do Pai e dizer a Ele: “Pai, se for possível, afasta este cálice do padre Léo”. No dia seguinte, quinta-feira, Eto, Luzia e eu fomos a São Paulo e levamos algumas roupas, pois não sabíamos quanto tempo iríamos ficar lá. Não foi fácil. Ainda mais porque tive de viver aquelas palavras do Senhor sozinho. Neste dia, eu tive a graça de entrar na UTI e dar os últimos sacramentos ao padre Léo. Peguei o meu “livrinho” e estava procurando a unção dos enfermos, mas não a encontrava, o que eu sempre via era a unção dos enfermos nos dias de morte. Então rezei aquela oração. É uma celebração lindíssima, mas já era para um doente em perigo de morte iminente.


No final daquela tarde, o médico nos levou para uma sala e nos deu a notícia da situação do padre Léo. Disse que nós o estávamos perdendo, pois já estava havendo falência dos órgãos dele e ele já tinha adquirido uma infecção no pulmão, que estava começando a percorrendo todo o corpo. O médico foi muito humano, mas também muito claro conosco. Nós perguntamos a ele se havia alguma esperança, e ele nos disse que tudo dependeria da reserva de energia do coração do padre Léo. Se ele tivesse resistência no coração para agüentar por mais 24 horas, seria possível “entrar” com outros medicamentos, mas naquele momento, não era possível fazer mais nada.

Isso suscitou em nós e na família do padre uma esperança, todos estavam pedindo o milagre para Deus. Eu peguei a minha ficha e fomos para a capela. Lá o Senhor me levou novamente àquilo que Ele já tinha mostrado e me disse: “Eu preciso da sua total submissão, o seu total abandono. Eu vou levar o padre Léo”. Era mais ou menos sete e meia, oito horas da noite quando Deus levou o padre Léo”.

Eu estou contando isso para que você não caia na sua fé. O Senhor nos dá o direito de sustentarmos a nossa fé, mas, ao mesmo tempo, Ele nos ensina que é preciso que tenhamos uma total entrega, uma total rendição no Senhor. É ele quem decide. Não é a nossa vontade, é a vontade d’Ele.

E agora eu lhe pergunto: na oração do Senhor, no Horto das Oliveiras, Deus amava ou não amava o seu Filho? Eis os mistérios de Deus. Se Jesus não assumisse aquele cálice e não morresse como morreu, Ele não teria nos salvado, foi por sua total obediência que Ele nos salvou. Foi preciso que Jesus bebesse daquele cálice de sofrimento e humilhação para que nós tivéssemos a graça da salvação.

Foi o que aconteceu com o padre Léo. Nós tivemos a primeira atitude na total confiança e pedimos ao Pai que curasse o padre Léo. Se isso não aconteceu no seu coração, deixe que as outras duas graças aconteçam no seu coração: o total abandono e a total submissão.

Hoje nós temos um grandíssimo intercessor no céu, porque o padre Léo viveu a nossa realidade. Até pelas graças que ele fazia, pois no meio das brincadeiras, ele trazia a verdade como ela era. E nos que acabávamos de rir de uma piada dele, tínhamos de engolir a sua verdade.

Quantas pessoas voltaram para a igreja e para Deus por causa do padre Léo! E aqueles que ele ainda não atingiu, ele vai atingir de um outro jeito, através da nossa oração.

É certo que na vida eterna ele está com aquele sorriso, relembrando para nós: “Total confiança em Deus, tudo é possível ao Pai”. Ao mesmo tempo, total abandono e rendição à vontade d’Ele, assim vocês verão a glória de Deus.

Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Padre Jonas Abib

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