“Nesse mesmo dia, dois discípulos caminhavam para uma aldeia, chamada Emaús, distante de Jerusalém sessenta estádios. Iam falando um com o outro sobre tudo o que se tinha passado. Enquanto iam conversando e discorrendo entre si, o mesmo Jesus aproximou-se deles e caminhava com eles. Mas os olhos estavam-lhes como que vendados e não o reconheceram. Perguntou-lhes, então: “De que estais falando pelo caminho, e por que estais tristes?”. Um deles, chamado Cléofas, respondeu-lhe: “És tu acaso o único forasteiro em Jerusalém que não sabe o que nela aconteceu estes dias?” Perguntou-lhes ele: “Que foi?” Disseram: “A respeito de Jesus de Nazaré… Era um profeta poderoso em obras e palavras, diante de Deus e de todo o povo. Os nossos sumos sacerdotes e os nossos magistrados o entregaram para ser condenado à morte e o crucificaram. Nós esperávamos que fosse Ele quem havia de restaurar Israel, e agora, além de tudo isto, é hoje o terceiro dia que estas coisas sucederam” (Lc 24,13-21).
São Lucas menciona o nome de somente um discípulo. Por que não citou o nome do outro? Ele deveria saber o nome do outro discípulo de Emaús, mas, propositadamente, o Espírito Santo o inspirou para que esse nome não aparecesse, porque, na verdade, no lugar desse discípulo estamos você e eu. Jesus se aproximou dos discípulos porque percebeu a derrota que havia dentro do coração de cada um deles.
Logo pela manhã daquele mesmo dia, Ele já havia se manifestado a Maria Madalena. Ela tinha motivos para estar derrotada já que tinha investido toda a sua vida em Jesus. Ela deixou a vida que tinha por causa d’Ele, tornou-se discípula e O acompanhou até o alto da cruz e na sepultura.
Depois que Jesus foi sepultado, Maria Madalena poderia também pensar como os dois discípulos de Emaús, porém, chamou as outras companheiras e juntas foram ao sepulcro logo cedo. Por esta razão, Jesus apareceu a Maria Madalena em primeiro lugar, ela que era pecadora, mas que tinha investido toda a sua vida n’Ele. Maria Madalena estava cheia de fé, embora soubesse que Jesus havia morrido e estava sepultado, e foi passar os últimos unguentos no corpo d’Ele.
Jesus aparece mais tarde para outros dois derrotados, sendo que um se chamava Cléofas e o outro (…) (diga seu nome). Da mesma forma que Jesus apareceu naquele tempo para Cléofas, para Maria Madalena, hoje, Ele se manifesta e se mostra ao outro discípulo que é você; e que, talvez, esteja tão derrotado. Talvez, você seja uma pessoa que sofra há muito tempo, que esteja carregando um casamento infeliz, de infidelidade ou até mesmo o abandono do lar por parte de um dos cônjuges. Talvez, sua derrota seja pela situação de pessoas da sua família, talvez, os filhos tenham problemas com os pais ou irmãos, talvez, seja a situação econômica que sua família esteja vivendo ou um desemprego. Pode ser que você tenha tido uma decepção com a Igreja ou com o grupo do qual participava…
Não estou menosprezando sua situação, apenas estou dizendo que assim como Jesus naquela manhã andou muitas léguas tendo a paciência de escutar e falar com aqueles discípulos, hoje, Ele quer se manifestar a você justamente por causa da sua derrota.
Jesus está disposto a levantar todos os derrotados como levantou aqueles dois discípulos de Emaús.
Quando Ele perguntou o que estavam conversando e o porquê estavam daquele jeito, imediatamente começaram a falar coisas negativas. Estavam tão “pra baixo” que nem sequer reconheceram Jesus. Eles eram discípulos e não O reconheceram! Quando estamos com o coração e o espírito derrotados, perdemos a visão de tudo, até mesmo do divino e do sobrenatural; quando a decepção acontece, você tem a impressão de que Deus é ausente e não resolveu a sua situação.
Aqueles dois discípulos andavam antes com Jesus, O escutavam e viram todos os milagres. Quando Ele morreu, ficaram tão derrotados que andaram um dia inteiro com Jesus sem que O reconhecessem. Você que está triste, que sente Deus ausente por não tomar conhecimento da sua situação, que sente uma descrença porque ainda não conseguiu ”apalpar” a Deus, saiba que quando estamos derrotados, não reconhecemos nem mesmo os mais íntimos.
Os discípulos, os quais um era Cléofas e outro era (…) (diga seu nome), não sentiram a presença de Jesus devido ao sentimento que tinham. Jesus, porém, quis se manifestar aos dois e, hoje, Ele quer se manifestar a você. Eles “vomitaram” para Jesus todo o negativismo e decepção pelo fato de terem vivido tanto tempo com Ele acreditando que era o Messias e que tinha vindo trazer a salvação a Israel, só que os próprios chefes do povo O julgaram, O condenaram e O crucificaram. Disseram que viram Ele ser sepultado e que já fazia três dias que isso tinha acontecido. Em seu estado de extrema negatividade, disseram-Lhe também:
“É verdade que algumas mulheres dentre nós nos alarmaram. Elas foram ao sepulcro, antes do nascer do sol; e não tendo achado o seu corpo, voltaram, dizendo que tiveram uma visão de anjos, os quais asseguravam que está vivo. Alguns dos nossos foram ao sepulcro e acharam assim como as mulheres tinham dito, mas a ele mesmo não viram” (Lc 24,22-24).
Era o caso dos discípulos saírem gritando que Jesus havia ressuscitado. Pois eles tinham ouvido falar que Ele ressuscitaria no terceiro dia… Só que esqueceram de tudo. Realmente, nossa derrota tira a fé em tudo aquilo que acreditamos, porque o derrotado começa a não acreditar em nem em si próprio. O derrotado rejeita tudo, e a primeira rejeição é contra si mesmo, e essa se estende aos demais.
Jesus está repetindo que assim como fez questão de andar e estar com os dois discípulos de Emaús, Ele está e sempre esteve com você, até mesmo naquela situação em que esteve jogado no chão; também na sua situação de derrota, rejeitando-se a si mesmo e a tanta gente no seu ressentimento, na sua mágoa, na sua decepção.
Seu irmão,
Monsenhor Jonas Abib