Padre Jonas Abib
“Pedro e João iam subindo ao templo para rezar à hora nona. Nisto levavam um homem que era coxo de nascença e que punham todos os dias à porta do templo, chamada Formosa, para que pedisse esmolas aos que entravam no templo. Quando ele viu que Pedro e João iam entrando no templo, implorou a eles uma esmola. Pedro fitou nele os olhos, como também João, e disse: Olha para nós. Ele os olhou com atenção esperando receber deles alguma coisa. Pedro, porém, disse: Não tenho nem ouro nem prata, mas o que tenho eu te dou: em nome de Jesus Cristo Nazareno, levanta-te e anda! E tomando-o pela mão direita, levantou-o. Imediatamente os pés e os tornozelos se lhe firmaram. De um salto pôs-se de pé e andava” (At 3,1-7).
Pedro foi tocado pela presença daquele homem aleijado, que todos os dias era levado à porta do templo para mendigar… O apóstolo podia tentar algum recurso para ajudar aquele homem… mas ele continuaria tendo de pedir esmola. Por isso, inspirado pelo Espírito Santo, exclamou:
“Não tenho nem ouro nem prata, mas o que tenho eu te dou: em nome de Jesus Cristo Nazareno, levanta-te e anda”! (At 3,6).
È como se Pedro dissesse: Isso eu tenho: levanta-te e anda! É isso que eu te dou! E, imediatamente, foi tomando o aleijado pela mão. Enquanto o levantava, como explica a Palavra de Deus, seus pés e tornozelos foram se firmando, de maneira que ele ficou firme sobre as próprias pernas. E ao sentir firmeza, o homem entrou no templo, andando, saltando e louvando a Deus.
Pedro não perde tempo: cheio do Espírito Santo, ele começou a pregar ali mesmo no templo. É impressionante a ousadia dele. A pregação dele está narrada nos Atos dos Apóstolos, capítulo 3, a partir do versículo 12. Com toda a coragem, o apóstolo diz aos presentes: “Matastes o Príncipe da vida, mas Deus o ressuscitou dentre os mortos: disso nós somos testemunhas” (At 3,15).
Ele nem consegue terminar sua pregação, porque logo chegam os soldados, mandados pelos sacerdotes do templo, para prendê-lo. Isso de nada adiantou porém, porque aquele povo já tinha sido atingido, mesmo com aquela pregação que nunca terminou!… Eles [sacerdotes] mandaram prender João também, para calar-lhes a boca, mas a unção de Pedro abriu o coração daquele povo, e fez a graça e a fé explodir em suas vidas. Diríamos em linguagem bem popular: “O tiro saiu pela culatra”.
“Muitos, porém, dos que tinham ouvido a pregação creram; e o número dos fiéis elevou-se a mais ou menos cinco mil” (At 4,4).
Assim, Pedro e João são presos, julgados, ameaçados, proibidos de pregar em nome de Jesus. Proibidos de realizar milagres. E ao voltarem para a comunidade a qual pertenciam, contam tudo o que lhes aconteceu. Em vez de ficarem com medo, em vez de dizerem a Pedro:
Vamos ter cuidado! Vamos ter prudência! Nossos chefes estão nos proibindo, nossos sacerdotes não querem… nos proíbem de pregar em nome de Jesus, nos impedem de realizar curas, milagres… eles nos ameaçam. Se continuarmos a pregar assim, se continuarmos a operar milagres em nome de Jesus…
Em vez de dizerem aos dois:
Pedro, João, vocês são muito importantes, você especialmente Pedro, você também, João, e todos vocês, apóstolos, são muito importantes. Ajam com prudência, com calma, não se exponham, vai ser muito arriscado, muito perigoso…
A comunidade disse justamente o contrário:
… “Agora, pois, Senhor, olhai para as suas ameaças e concedei aos vossos servos que com todo o desassombro anunciem a vossa palavra. Estendei a vossa mão para que se realizem curas, milagres, prodígios pelo nome de Jesus, vosso santo servo!” (AT 4,24.29-30).
É essa oração que Deus quer que suba aos céus, nestes tempos. Essa é a oração que somos impulsionados a realizar. Desassombro e intrepidez são tradução de uma palavra grega: parresia. Tanto o verbo como o substantivo correspondentes indicam uma qualidade derivada da fé. Uma fé verdadeiramente carismática, uma fé de expectativa produz essa qualidade, que se manifesta concretamente em coragem, firmeza, ousadia, intrepidez, desassombro, destemor… um verdadeiro “atrevimento no Espírito Santo!”
Foi isso que eles pediram naquele clamor que, unânimes, elevaram ao céu. Foi isso o que Deus lhes concedeu. Eles receberam “o dom da parresia”. Foi isso o que eles imediatamente começaram a usar, anunciando a Palavra de Deus com desassombro. Realizando curas e milagres com intrepidez. Eles se tornaram realmente “atrevidos no Espírito”. Foi esse “dom extraordinário” do Espírito que eles receberam naquela ocasião.
“Concedei que anunciem com todo o DESASSOMBRO a vossa palavra e se realizem curas, milagres e prodígios” (cf. At 4,29-30).
O que aconteceu?
“Mal acabavam de rezar, tremeu o lugar onde estavam reunidos. E todos ficaram cheios do Espírito Santo e anunciavam COM INTREPIDEZ a palavra de Deus” (At 4,31).
É esta a graça que Deus quer dar à Sua Igreja. É este “dom extraordinário” que Ele quer que ponhamos em prática.
Padre Jonas Abib