Um diamante no céu

Quando olhei as leituras do dia de hoje, quis que elas permanecessem nesta missa de exéquias, porque graças a Deus, o padre Léo viveu tudo o que está descrito nelas, literalmente.

Foi em Brusque (SC) que o padre Léo viu que havia muitos “Cains” matando os seus irmãos por meio das drogas e da vida prostituída, vivendo como mortos-vivos.

A congregação na qual ele vivia ofereceu-lhe um cargo de dirigente de um grande colégio. Ele tinha tudo para fazer uma grande carreira, mas ele quis dedicar-se àqueles que estavam sendo “mortos” pelo mundo. Logo, ele percebeu que não era só no lugar onde estava que existiam pessoas com problemas do uso de drogas, mas no mundo todo. E ele foi se dedicando a este resgate, dentro do espírito de fundador, de modo que realizou uma verdadeira “Bethânia”. Não apenas no nome, mas um lugar onde havia muitas “Marias, Martas e Lázaros”, que precisavam ser ressuscitados.

Na família Bethânia todos o chamavam espontaneamente de “pai”. Todos os que acompanharam o seu trabalho de restauração dos jovens, puderam ver que ele dedicou-se inteiramente, – junto com os consagrados da comunidade – a recuperar a face de Cristo naquelas pessoas “mortas” pelo mundo.

Padre Léo dava a vida na Comunidade Bethânia, mas ao mesmo tempo, ele tinha um imenso ardor apostólico e se sentia impelido a andar pelo Brasil inteiro evangelizando.

Na sua vocação, ele foi “redespertado” quando conheceu a mim, a Canção Nova e a Renovação Carismática Católica. Ele aproximou-se de nós e tornou-se assíduo em nossa comunidade. Surgiu dele a vontade de fazer um programa na TV Canção Nova. Além disso, ele tinha os retiros para jovens e principalmente para casais.

Nós, que éramos próximos dele, dizíamos que ele precisava se poupar, ir mais devagar, mas ele dizia que não havia sido feito para isso, pois sua missão era viver “Bethânia”, trabalhar na ressurreição de muitos “Lázaros”. Além dos jovens e adultos da Comunidade Bethânia, quantos casais fizeram retiros lá!

Ele era brincalhão, mas era após uma piada que ele entrava em assuntos muito sérios. Ele foi um “Davi” lutando contra os “Golias” deste mundo, e derrubando-os. Da mesma forma, ele lutou contra os “Cains” deste mundo. E viveu o que diz a leitura: “Não vos admireis, irmãos, se o mundo vos odeia. Nós sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos”.

Mesmo com o câncer presente nele, padre Léo continuava trabalhando. Foi na minha casa, na minha frente, nos dias de Carnaval, que ele teve uma espécie de convulsão, quando foi socorrido no Posto Médico Padre Pio de Cachoeira Paulista (SP) e, imediatamente, levado para o Hospital Frei Galvão, em Guaratinguetá (SP). Já naquele trajeto de uma cidade para outra, nós, por várias vezes, sentíamos que o padre Léo morreria. Eu vi isso por entre os olhares dos médicos, Dra. Márcia e do Dr. Djalma, quando eles quase o intubaram ali mesmo, dentro do carro.

Deus nos deu a graça de tê-lo junto de nós durante mais dez meses. Tempo que o Senhor acabou de “burilar” o diamante, que ele era.


Assim como um diamante só tem valor se for “burilado”, Deus quis fazer isso também com ele. O Senhor quis “burilá-lo”. Chegando o início do ano de 2007, Deus viu que ele já estava “brilhante”, era realmente um “diamante” de alto preço, que já podia ser “recolhido”.

Apenas 45 anos de idade, mas quanta transformação, quanta santidade! Nós lemos no Evangelho que os gregos chegaram Filipe e disseram-lhe que queriam ver Jesus. Quando o Senhor viu que até os estrangeiros (os gregos) estavam buscando a salvação, Ele se encantou com aquilo e disse: “Chegou a hora em que o Filho de Deus será glorificado”. E Jesus continua: “Quem se apega a sua vida, perde-a, mas quem não se apega à própria vida, aguarda para a vida eterna”. O que o padre Léo fez foi exatamente isso: mostrou Jesus a tanta gente!

Ele “gastou-se” e deu a vida aos 45 anos. Isabel Cortez, primeira consagrada da Canção Nova a falecer na comunidade, era uma locutora brilhante e foi em missão para a Bahia, para a nossa primeira Rádio fora da sede da comunidade. Quando nós trouxemos o corpo dela para ser velado na Canção Nova, o saudoso bispo João Hipólito de Moraes fez questão de presidir a santa Missa de Exéquias, mas na hora da homilia, ele pediu que eu pregasse.

Houve um momento em que eu disse assim: “Quando alguém é canonizado, as regras de vida, os estatutos da congregação a qual ele pertence, são como que canonizados também, pois aquelas regras são capazes de fazer com que as pessoas possam levar uma vida santa”. Eu , então, olhei para os consagrados da Comunidade Canção Nova e lhes disse: “Ou santos ou nada”. Foi a primeira vez em que eu disse isso. Não foi uma coisa planejada, porque eu nem sabia que faria a pregação naquele momento, foi uma surpresa de Deus para mim.


[Ouça trecho desta homilia]

Hoje, eu digo o mesmo à Comunidade Bethânia e à Canção Nova, que diante do estilo de vida que o padre Léo viveu, nós não temos o direito de viver de outra maneira, a não ser: “Ou santos ou nada!” Foi num acontecimento, diante de uma morte, que surgiu este modo de vida.

Padre Léo me considerava e respeitava como pai, por isso eu me sinto no direito de dizer à Comunidade Bethânia que, daqui para frente, vocês, consagrados, devem viver isso: “Ou santos ou nada”. Nós somos cristãos, amamos Jesus e o Evangelho, e queremos ser um “diamante” no céu. Convido você a também viver conosco isso que Deus apresenta para nós, diante da vida e da morte do padre Léo: “Ou santos ou nada”.

Você, que amou o padre Léo, venha para uma última despedida. Quando ele veio para a Canção Nova participar do . Você viu como ele tinha emagrecido, mas até o inchaço que ele está agora, desses últimos dias, fez com que ele voltasse a ser como era, com o rosto arredondado.

Nosso bispo, Dom Benedito Beni, fez questão de presidir a santa Missa, que realizaremos às 13h. Logo após, o corpo será levado para a cidade de Itajubá (MG), onde será sepultado na manhã de sábado.

Devemos agradecer ao padre Léo pelo exemplo, especialmente nós que tivemos o privilégio de viver muito próximos dele. Ele sempre deixou muito claro que ele era nosso irmão, mas era de Deus.

Muito obrigado, padre, porque nos arrastou durante sua vida e nos arrasta agora para a santidade.

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