Quando eu leio o versículo: Antes que no seio fosses formado, eu já te conhecia; antes de teu nascimento, eu já te havia consagrado, e te havia designado profeta das nações (Jer, 1,5), eu me comovo, pois só estou, aqui, por causa de Dom Bosco.
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No momento do meu nascimento, como de costume, o parto seria feito por parteiras, mas, apesar de todos os trabalhos, elas não conseguiam fazer com que eu viesse ao mundo. Na época, meus pais moravam longe da cidade; então, eles foram até o centro para buscar a ajuda de um médico. Mas, mesmo com a ajuda daquele profissional, eu não conseguia nascer.
Enquanto isso, na sala, algumas pessoas conversavam sobre a canonização de um novo santo chamado Dom Bosco. Mamãe ouviu, do quarto, aquela conversa e, mesmo sem conhecer a história desse santo, pediu sua intervenção para o parto. Minutos depois, eu nasci com uma facilidade que o médico, tampouco as parteiras, poderiam imaginar.
Tempos depois, mudamo-nos para São Paulo devido ao trabalho do meu pai. Lá, quando minha mãe ia à clínica, costumava passar pela igreja do Sagrado Coração de Jesus e sempre entrava para rezar um pouco. Na igreja, a imagem de um santo chamava sua atenção. Certo dia, ela perguntou ao sacristão quem era aquele santo, e ele respondeu que era Dom Bosco. Mamãe se lembrou do momento do meu nascimento e, mais uma vez, confirmou a minha consagração às mãos dele.
Anos mais tarde, quando eu estava na escola, a Irmã Superiora foi visitar o colégio e passou em cada sala de aula. Quando chegou na minha sala, ela fez uma pergunta para os alunos: “o que gostaríamos de ser quando crescer?”. Na minha vez, eu respondi que desejava ser padre. E ela perguntou o porquê. Eu não me lembro da resposta que lhe dei, mas minha resposta fez com que ela orientasse as irmãs do colégio a cuidarem de mim e da minha vocação.
Depois, consegui, com muito esforço dos meus pais, ir para o colégio salesiano, para ingressar no seminário, na cidade de Lavrinhas (SP).
Eu não tenho dúvidas de que Dom Bosco me acompanhou e, até hoje, tem me acompanhado. Se estou aqui, é porque minha mãe me consagrou a ele e também porque a irmã, na época do colégio, cuidou de mim e me ajudou na realização da minha vocação.
Assim, quando retomo a leitura do versículo: Antes que no seio fosses formado, eu já te conhecia; antes de teu nascimento, eu já te havia consagrado, e te havia designado profeta das nações , percebo a realização dessa promessa.
Nós não podemos parar. Devemos nos deixar conduzir pelo Espírito para que sejamos profetas para as nações.
No Evangelho de hoje, no sermão da montanha, o Senhor nos diz: Vós sois o sal da terra. Se o sal perde o sabor, com que lhe será restituído o sabor? Para nada mais serve senão para ser lançado fora e calcado pelos homens (Mt. 5,13). Se o sal perder o sabor, como poderá voltar a ser sal?
O sal preserva. E como é preciso, no mundo atual, preservarmos os valores! Vemos como as pessoas estão se estragando nos conceitos, no próprio corpo… A corrupção passou a ser cotidiana, não somente nas grandes coisas, mas nas pequenas também. Criou-se uma cultura de corrupção em que todos querem tirar alguma vantagem de alguma coisa ou de alguém.
As pessoas precisam ser resgatadas. É necessário não somente resgatar, mas prevenir as pessoas para que elas não entrem nesse círculo vicioso. Por isso, o Senhor nos constituiu sal, a fim de preservarmos os bons costumes. E isso acontece por meio de pequenos hábitos, que são deixados de lado, a começar pelas roupas, por exemplo, entre muitos outros bons costumes. Por isso, o Senhor nos chama a ser sal para preservar a pureza nos olhos, nos hábitos, pois sabemos que a impureza nos leva a perder o sentido da vida. Nada tem mais valor, tudo passa ser natural.
As nossas famílias também estão sujeitas a essa corrupção; então, é preciso gastarmos a nossa vida para resgatar esses valores.
Dom Bosco gastou sua vida para resgatar a integridade daqueles meninos de quem ele cuidava. Ele trabalhava incessantemente. E quando faleceu, os médicos disseram que ele morreu, não por causa de uma doença, mas por falta de energia. Dom Bosco se consumiu como uma vela que se desfaz para proporcionar luz. E a Canção Nova é uma obra de Dom Bosco.
Deus nos constituiu sal da Terra. E se o sal perder o seu sabor, como voltará a salgar? Se isso acontecer, ele não servirá para mais nada, será jogado fora e pisado. Isso não pode acontecer conosco. Não podemos ter medo de mostrar ao mundo as nossas boas obras. Que o nosso comportamento seja motivo de transformação para aqueles que estão próximos. Que os homens, vendo as nossas obras, se convertam em novas criaturas, se preparando para o mundo novo que há de vir.
A missão daquele que é servo não é outra senão servir. “Dai-nos, Senhor, a graça do Teu Espírito Santo, para que sejamos instrumentos para a salvação daqueles que o Senhor nos enviar. Dai-nos os dons do Teu Espírito para que sejamos servos, sendo sal e luz para o mundo.
Monsenhor Jonas Abib
Fundador da Comunidade Canção Nova
Transcrição e adaptação: Dado Moura