Homilia das Exéquias

Monsenhor Jonas foi um homem das bem-aventuranças

Homilia, na íntegra, da Missa do dia 15 de dezembro das Exéquias de padre Jonas Abib, presidida por Dom Benedito Beni

Prezados sacerdotes concelebrantes, diáconos e seminaristas, irmãos e irmãs, iniciamos a nossa reflexão pela primeira leitura, que registra a vocação do profeta Jeremias. Na relação do ser humano com Deus, a iniciativa jamais vem de baixo, ela vem do Alto, vem de Deus. Deus sempre toma a iniciativa de vir ao encontro do ser humano. É o primado da graça.

O primado da graça, meus irmãos  e minhas irmãs, se verifica, antes de tudo, na criação. O ser humano não é criador de si mesmo, ele é criatura. O seu ser e a sua vida são dons de Deus. O ser humano não é salvador de si mesmo, a salvação é um dom gratuito de Deus. Com as nossas boas obras, que fazemos sempre com o auxílio da graça, merecemos alguma coisa, mas a salvação supera infinitamente o mérito de nossas boas obras. 

O primado da graça se verifica também na oração. Segundo São João Paulo II, a oração é o diálogo com Deus, mas, nesse diálogo, a iniciativa não está no eu, naquele que ora, a iniciativa está em Deus. A oração não é ato primeiro, é ato segundo. É a resposta que damos a Deus que se aproxima de nós, que quer fazer aliança conosco.

O primado da graça se verifica, sobretudo, na vocação, como nós ouvimos na primeira leitura desta missa. É Deus quem escolhe. É Ele quem chama. É ele quem dá a graça para que a pessoa possa responder ao chamado d’Ele. Deus sempre chama para conferir uma missão. Vocação e missão são versos da mesma moeda, da mesma medalha. 

Monsenhor Jonas foi um carismático no sentido pleno, um depositário de dons divinos

E também o primado da graça está presente na missão, por isso mesmo, quando o profeta Jeremias, ainda muito jovem, apresenta a Deus as suas limitações para  cumprir a missão, Deus lhe responde: “Não tenhas medo, eu estou contigo”.  Eu estou contigo designa justamente o primado da graça.

E Monsenhor Jonas foi uma obra do primado da graça de Deus. Deus fez dele um instrumento para realizar maravilhas na Igreja, coisas importantes na igreja. Podemos dizer, irmãos e irmãs, que Monsenhor Jonas foi um carismático no sentido pleno, um depositário de dons divinos, não para ele, em primeiro lugar, mas para a Igreja. Monsenhor Jonas foi um homem das bem-aventuranças.

Ouvimos, no Evangelho, que Cristo, para anunciar as bem- aventuranças, subiu ao alto  da montanha. Nas Sagradas Escrituras, o alto da montanha é um lugar privilegiado para as teofanias, para as manifestações de Deus. É o lugar privilegiado para a oração. Cristo frequentemente sobe ao alto da montanha para orar. No alto da montanha o nosso pensamento espontaneamente se volta para o Deus Criador.

O alto da montanha também é o lugar do anúncio da Palavra de Deus. Foi no alto da montanha que Moisés recebeu os Dez Mandamentos. Foi no alto da montanha que Jesus anunciou as bem-aventuranças e elas (bem-aventuranças) foram o programa de vida de Jesus e de seus discípulos, por isso observa São Mateus que quando Jesus foi ao alto da montanha e sentou-se, os seus discípulos se aproximaram dele. 

As bem-aventuranças foram também o programa de vida de Nossa Senhora. Um grande exegeta do século passado, Joaquim Jeremias, afirmou que, no alto da montanha, enquanto Jesus anunciava as bem-aventuranças, pensava em sua Mãe.

De fato, Nossa Senhora é a primeira a ser chamada bem-aventurada no Novo Testamento. “Bem-aventurada és tu que crestes”, disse Isabel sua prima (Lc 1,45). “Bem-aventurada o ventre que te carregou e os seios que te amamentaram!” (Lc 11,27), proclama uma mulher do meio da multidão, maravilhada com as palavras, cheias de graça e beleza que saiam da boca de Jesus.

Bem-aventuranças: biografia de Monsenhor Jonas

Nós podemos dizer, irmãos e irmãs, que as bem-aventuranças foram a biografia de Jesus, a vida de Jesus. Ele é o Bem-aventurado por excelência, mas as bem-aventuranças devem ser também a biografia dos discípulos de Jesus. As bem-aventuranças foram a biografia de Monsenhor Jonas, a vida de Monsenhor Jonas.

Bem-aventurados os pobres em espírito. “Pobres em espírito” é aquele que tem a consciência de que nós dependemos, em tudo, da graça de Deus; sem a graça de Deus não somos nada.

Bem-aventurados os aflitos. Aflito é aquele que sofre não no corpo, mas na alma, por causa do mal, do pecado existente no mundo.

Bem-aventurados os que têm coração puro. Ter o coração puro, irmãos e irmãs, significa olhar as pessoas com o olhar de Deus. Deus olha para o coração pois Ele é amor. Ter um coração puro é procurar olhar as pessoas para além das aparências, penetrar o seu interior, respeitar a sua dignidade de pessoa e imagem de Deus.

Bem-aventurados os mansos. Manso é aquele que não usa a violência contra ninguém nem a violência física nem a violência das armas nem a violência da palavra. A palavra que ofende o próximo, que entristece e fere a sua dignidade é também uma forma de violência.

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Bem-aventurados os misericordiosos. A misericórdia significa ter o coração voltado para as misérias alheias. Quando o próximo erra, peca, não devemos atirar pedras. O Evangelho proíbe atirar pedras, porque não muda o coração de ninguém, o que muda o coração é a misericórdia.  

Bem-aventurados os construtores da paz. Jesus reservou a mais bela das bem-aventuranças aqueles que constroem a paz . “Serão chamados filhos de Deus”. Essa paz de que fala Jesus é a paz Messiânica, é aquela paz que o coro dos anjos anunciou na noite de natal. “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados”. 

A paz Messiânica, irmãos e irmãs, é um conjunto de diversos bens, por isso, deve ser construída por nós a cada dia. Bondade, amor, justiça, misericórdia. Quem procura ser bondoso para com o próximo já está construindo a paz. Quem ama o irmão já está construindo a paz. Quem pratica a justiça está construindo a paz. Quem é misericordioso está construindo a paz.

Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, isto é, aqueles que procuram com todo o seu ser a santidade de vida. justiça significa santidade de vida, e esta santidade consiste na conformação a Cristo. Fazer com que a nossa vida tenha a forma da vida de Cristo.

A forma da vida de Cristo

Podemos dizer que a vida de Monsenhor Jonas teve o modelo da vida de Cristo, o modo de Cristo, o Bom Pastor, o Cristo Evangelizador. Nossa resposta à primeira leitura é muito significativa para o Monsenhor Jonas e para a Canção Nova, o Salmo 95: “Cantai ao Senhor Deus um canto novo”.

Santo Agostinho, ao fazer o comentário deste Salmo, afirma que o canto novo não é o canto da boca, é o canto da nossa vida. Uma vida agradável a Deus é o canto novo que Ele quer ouvir. Uma vida de santidade é o mais belo canto que chega aos ouvidos de Deus. É a mais bela canção.

Irmãos e irmãs, vamos hoje agradecer a Deus porque a vida do Monsenhor Jonas foi um novo canto, foi uma Canção Nova, foi uma vida agradável a Deus, uma vida santa. Vamos também, na celebração desta Eucaristia, agradecer a Deus que fez brilhar no firmamento da Igreja, esta estrela bonita que foi a vida de Monsenhor Jonas. Uma estrela que sempre apontou para a Estrela maior, que é Jesus Cristo. Amém!

Transcrição e adaptação: Ester Vieira 

Assista à Santa Missa de Corpo Presente do Monsenhor Jonas Abib – Dom Benedito Beni

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