Homilia das Exéquias

Padre Jonas, o homem movido pelo Espírito Santo

Dom Lessa fez a primeira parte da homilia das exéquias de Padre Jonas Abib, no dia 13 de dezembro de 2021:

“Creio no amor de Deus que, através do Padre Jonas, tendo dado a ele um carisma, Deus fez do Padre Jonas o Seu servidor fecundo para o bem da Igreja e tantas almas. 

Meus irmãos eu era bem jovem, talvez ali, eu tinha os meus quarenta anos, quando a esposa do governador do meu estado, me procurou porque queria vender a televisão. Oferecia a televisão a nós por oito milhões, que há 37 anos era dinheiro. Eu não tinha esse dinheiro. Procurei durante um ano. Até no exterior fui, mas nada. Aí eu me lembrei deste homem de Deus, cuja a comunicação dele, o núcleo era o Mistério de Deus, da Trindade Santa, era a Igreja e, depois, seguindo naturalmente, os Sacramentos.

A Glória de Deus será manifestada

Quando eu falei para ele, ele me perguntou: “Eu não tenho dinheiro, você tem o dinheiro?”. E eu disse: “Ah, Padre Jonas, nem eu nem o senhor temos, mas eu tenho certeza que Deus tem. Se nós dois nos unirmos, a Glória de Deus será manifestada. Não será nem minha glória nem a sua. Será a Glória de Deus”.

Olha, essas palavras simples tocaram o coração dele. Ele me disse depois que foi por causa dessas palavras que ele foi para lá, e lá nos reunimos sem ter um tostão na mão. Conseguimos 500 mil emprestados para dar de entrada. Aliás, neste tempo, nós conversamos com a senhora, que era dona do canal de televisão, e descemos de 8 milhões para 4,5 milhões. Quando Padre Jonas foi lá, já estava em 4,5 milhões, e ela ainda aceitou que fossem pagos em prestações. O Padre Jonas se empenhou. Nós arrumamos 500 mil emprestados e, depois, vocês, o povo de Deus, mensalmente, acho que era 250 mil, foi pagando o resto. 

Estou dizendo tudo isso para falar como este homem acreditou. Como ele foi instrumento da Graça de Deus, para que vocês pudessem estar aqui hoje. Porque ele acreditou que do nada, enquanto poder econômico, a gente pudesse ter uma televisão, pela ação da providência de Deus. Quanta gente hoje é de Deus por causa desta fé do Padre Jonas! Por causa do empenho dele, Deus vendo o coração dele e vendo que realmente ele era aquele que se dava totalmente para a evangelização. Deus, então, o chamou para esta missão e colocou nas mãos dele o instrumento, que é a televisão. Hoje, ele não precisa de televisão. Ele está na face de Deus, na Glória de Deus. Mas, com certeza, de lá, ele sabe o valor deste meio de comunicação. Ele vai interceder junto ao Pai para que a obra d’Ele, que é obra do Espírito através dele, continue para a Glória de Deus, o bem das almas e das pessoas.

Padre Jonas, tu que estás na Glória de Deus, roga por tua igreja, por esta obra que nasceu do Espírito, através da sua fé. Amém!”

Padre Roger Luís faz a segunda parte da homilia das exéquias de Padre Jonas Abib: 

Que ninguém se perca!

“Em primeiro lugar, Dom Lessa, preciso agradecer a Deus por este sinal para nós hoje: a presença do senhor. Quando disseram que o senhor estava chegando, eu me alegrei muito, até mesmo por saber que o senhor para nós é esse sinal profético. 

O senhor provocou a fé expectante do nosso pai fundador, Monsenhor Jonas, para que ele tivesse, a partir desta fé que ele sempre nutriu, a coragem de assumir este empreendimento, que, depois inspirado no pai fundador dos Salesianos e dele, Dom Bosco, foi dado o nome de “Projeto Dai-me Almas”. Porque é exatamente esse o projeto que nós, como Canção Nova, cultivamos, a partir do nosso pai fundador e de tudo que ele nos ensinou. Principalmente, a ter gana pelas almas. Então, nós queremos acolher a Dom Lessa com uma salva de palmas.

Imagino que lá do Céu, o Padre Jonas deve estar aplaudindo também essa ousadia do senhor; e para nós é uma provocação. A Liturgia da Palavra vai nos mostrar coisas importantes que nós precisamos cultivar. A primeira leitura falava de herança. O Evangelho vai nos falar de um desejo do coração de Jesus sobre uma dimensão que o nosso pai também falou a nosso respeito. Que ninguém daqueles que me foi confiado se percam. 

Há sinais da presença da Virgem Maria na caminhada sacerdotal do Padre Jonas

Eu separei algumas coisinhas, alguns pontos importantes que eu percebi, dentro daquilo que Deus foi colocando dentro do meu coração, enquanto eu rezava para a homilia desta Santa Missa.

A primeira coisa é que o nosso pai fundador foi um devoto da Santíssima Virgem Maria desde o início da sua caminhada. Ainda me lembro bem do meu noviciado, lá em Lavrinhas, quando ele partilhava diante da imagem de Nossa Senhora Auxiliadora, lá na capela de Lavrinhas. Da consagração que ele fez, da vida dele, a Nossa Senhora, aos pés daquela imagem, principalmente pedindo a Nossa Senhora o dom da pureza. Ele tinha 12 anos de idade.

Diante de Nossa Senhora, ele fez a oração e, depois, ele dizia que vivia aquela prática de piedade, de rezar três Ave- Marias pedindo a Nossa Senhora a graça de não cometer pecado mortal. Aos pés da cama, ele dobrava os seus joelhos e pedia a Nossa Senhora esta graça, Auxiliadora dos Cristãos.

Depois, ele foi ordenado em um dia d’Ela, a Imaculada Conceição. Cinquenta e oito anos depois, num tempo longo no hospital, passando por todas as provas, ele volta para casa no dia d’Ela, no Dia da Imaculada… Sinais da presença da Virgem Maria na caminhada sacerdotal do nosso pai fundador, sinais da presença da Virgem Maria na Canção Nova. E, ontem,12, no dia da Virgem de Guadalupe, Nossa Senhora veio buscá-lo. Porque Ela busca os seus devotos no dia d’Ela. Se não é num sábado, é em uma festa mariana. 

Nossa Senhora dizendo: “Meu ‘Jonas’, vamos comigo!

E nós, como filhos deste devoto da Virgem Maria, e neste dia especial da Padroeira da América Latina, nós vemos no manto de Nossa Senhora, nós vemos nesse manto, que é um sinal concreto do milagre desta aparição, desta investida do Céu na Terra. Nós vemos este sinal na vida da Canção Nova e na vida do nosso fundador. E, hoje, nós estamos aqui, com o coração doído, dolorido, sofrido, mas cheios de esperança. Esperança deste Céu, desta alegria que o salmista vai dizer: “Que alegria quando me disseram vamos à casa do Senhor”.

Eu estava pensando ontem, logo assim quando recebi a notícia da Páscoa do nosso pai fundador, era também o dia em que eu estava também celebrando meu aniversário de padre, de 16 anos de sacerdócio. Eu fiquei pensando no sinal, que foi para o povo indígena a Virgem aparecer falando a língua deles, na cor da pele deles, chamado Juan Diego de “meu filhinho”. 

Eu fiquei imaginando a doçura da voz de Nossa Senhora dizendo “meu ‘Joninho’, vamos comigo. Vamos para a Casa do Pai. Vamos para a casa do Senhor. Vamos para o lugar da alegria eterna. “Mas ali também eu vi como um sinal para nós, Canção Nova, depois que Nossa Senhora apareceu lá no Tepeyac, no México, os Jesuítas já estavam há muito tempo naquela terra, tentando evangelizar e não conseguiam as conversões. 

Depois que Nossa Senhora apareceu, naquele monte, foram milhares de conversões, a ponto dos Jesuítas batizarem 5 mil pessoas por dia. Cinco mil  índios que iam se convertendo. 

Padre Jonas Abib, o homem do espírito

E, depois de receber a notícia da páscoa do nosso pai fundador, fazendo a sua páscoa no dia de Nossa Senhora de Guadalupe, diante desses sinais, eu fiquei pensando que daqui para frente vai ser assim, a partir da intercessão dele, na presença de Deus, mas também da Virgem Maria, mais conversões mais “Dai-me almas”, mais conversões, mais almas salvas para Jesus. É isso que Deus espera de nós, é isso que Nossa Senhora espera de nós, é que o nosso pai fundador estará intercedendo para que nós tenhamos a coragem de salvar almas. 

Depois, o segundo ponto é olhar para a vida dele e reconhecê-lo como Mister Pentecostes. O homem do Espírito. Foi batizado no Espírito Santo, no dia 02 de Novembro do ano de 1971, e não apagou o Espírito, pelo contrário, o fogo foi crescendo cada dia mais. Foi vivendo uma vida no Espírito. Seja uma vida marcada pelo caminho de santidade, seja uma vida marcada por uma ação apostólica. O fogo do Espírito que queimava no coração dele, ardia no coração dele. 

A herança da devoção a Virgem Maria, a herança da devoção ao Espírito Santo e a herança da nossa consagração ao Espírito Santo. 

São Tomás de Aquino vai dizer que nós temos três opções, três realidades que apagam o Espírito Santo. Lembram que, na carta aos Tessalonicenses, o Apóstolo Paulo vai dizer “Não apagueis o Espírito”. São Tomás de Aquino vai dizer que uma das formas de apagar o Espírito é não alimentar o fervor, a oração. O pecado mortal, que apaga o Espírito, e o guardar os dons para nós e não compartilhar os dons com os outros.

Família Canção Nova, não deixemos de alimentar o fervor com a oração, com a vida carismática

Quando nós olhamos para o Padre Jonas, quando olhamos para a história dele, vemos exatamente um homem que alimentou o seu fervor. Eu ainda me lembro daquele processo de “noite escura dos sentidos” que ele passou, que eu pude acompanhar, estar perto, estar lá em casa, sair com ele tantas vezes. Quando nós ficamos em Queluz, ele escreveu alguns documentos. Eu via um homem que mantinha o fogo aceso pela vida de oração. Não era fácil rezar. 

Quantas vezes naquele momento não conseguia escrever, mas ele fazia o estudo, ele falava daquilo que Deus estava falando ao coração dele, para que fosse anotado no seu caderno. Não deixava de fazer adoração. Não deixava de orar em línguas. 

Imagino que não sentindo nada, porque a “noite escura dos sentidos” a gente vai perdendo. Inclusive, nessa noite escura, ele ficou sem o dom mais precioso que ele tinha recebido, sem condições de pregar a Palavra, e Deus foi purificando. Mas, principalmente, ele não deixou de alimentar o fervor. 

Comunidade Canção Nova, Família Canção Nova, não deixemos de alimentar o fervor com a oração, com a vida carismática, com o contato diário com a Palavra, a “Bíblia foi escrita pra você”, a “Bíblia no meu dia a dia”. Com a experiência da adoração diária, com a experiência da eucaristia diária, com a vivência da nossa vida espiritual. 

Ou Santos ou Santos

Depois, o pecado mortal, “Ou Santos ou nada”, foi o que ele declarou quando Isabel Cortês foi colhida por Deus. Depois de um longo tempo, ele declara: “Ou Santos ou Santos”. Nós não podemos brincar com a nossa santidade de vida. Banir o pecado mortal. O pecado mortal é uma das formas de apagar o Espírito, vai dizer São Tomás de Aquino. 

E, depois, não guardar os dons para nós e colocá-los a serviço. Quantos dons colocados a serviço. Com certeza, os nossos canais estarão cheios de testemunhos. Eu que ando pregando pelo Brasil, em todo lugar, vejo rastros de Deus deixados pelo nosso querido pai fundador Monsenhor Jonas. Em todo lugar uma influência, uma palavra de sabedoria, uma provocação, comunidades que foram fundadas porque ele não guardou os dons que recebeu para si.

Ele não enterrou, ele multiplicou. Imagino quando ele chegou lá no Céu, Jesus disse: “Servo bom e fiel, porque fostes fiel no pouco, pode entrar”. 

Depois, o terceiro ponto de herança que nós recebemos é exatamente a santidade de vida. Ele deixou crescer no seu coração a obra do Espírito Santo, a vida no Espírito que o fez se desgastar pelo Reino. 

Padre Jonas se parecia com Jesus

Porque santidade não é eu ficar isolado, mas é eu me colocar a serviço. É eu amar demais a Deus e amar demais a humanidade para querer salvá-la. “Dai-me almas e ficai com o resto”. A amizade com o Nosso Senhor fez com que o nosso pai fundador, Padre Jonas, se tornasse parecido com Jesus. 

Não é verdade que o Padre Jonas se parecia com Jesus!? Quando ele falava, os gestos dele. Você se lembra? Você que teve contato pessoal com ele, do olhar? O olhar fixado no nosso olho. Aquele olhar de Jesus. Aquele olhar que vê a sua alma. Que te contempla por inteiro e que é inteiro. Eu imagino que Jesus agia desta maneira. Quando Jesus encontrava com alguma pessoa, Ele era inteiro para aquela pessoa. No entanto, ficou lá no posto com a Samaritana e tantos outros encontros que nós vemos na bíblia. 

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Se nós formos santos, teremos gana por almas

Contato de amizade cotidiana, de intimidade com o Nosso Senhor foi gerando essa santidade, esse amor a Deus acima de todas as coisas, esse amor a Deus acima de todos os bens, esse amor a Deus acima de todas as pessoas que, consequentemente, gerou esta paixão pela salvação das almas.  

Uma herança que o nosso pai fundador nos deixa: “Ou Santos ou Santos!”. Se nós formos santos, teremos gana por almas. Nós não economizamos a nossa vida. Ele se desgastou como uma vela que queima no altar até se apagar. E nós recebemos essa herança. 

Uma outra herança que nós recebemos: uma vida alinhada com o advento. Família Canção Nova, não deixemos de alimentar o fervor com a oração, com a vida carismática

O que que é o advento senão a espera da vinda do Senhor? Eu fiquei pensando: nasceu no advento, dia 21 de dezembro; foi ordenado no advento, 08 de dezembro, dia de Nossa Senhora da Imaculada Conceição; e morreu no advento. 

Padre Jonas, um João Batista da nossa geração

Aquele que foi levantado por Deus como profeta da vinda do Senhor. Que anunciou a vinda do Senhor. São sinais que Deus está dando para nós, Canção Nova. Ele assumiu a sua vocação como um estado permanente, como um estado permanente de advento. De espera pelo Senhor, de oração e de vigilância. Um homem que preparou um povo bem disposto para a segunda vinda de Jesus, um João Batista desta geração.  

Palavra, profecia, vida consumida; Mariano, carismático, santo e profeta da vinda do Senhor… É um pouquinho da herança, porque a herança é muito grande, que nós, como Canção Nova e família Canção Nova, recebemos. É um pouquinho da herança. Alguns pontos desta herança grandiosa que ele deixou para nós. A Canção Nova precisa dar prosseguimento à profecia refletida e proclamada, a partir do Padre Jonas.

Outra coisa que eu me recordava hoje, o profeta Eliseu morreu, foi sepultado e, depois, jogaram um morto em cima dos ossos de Eliseu e o morto ressuscitou. Para dizer que a profecia jamais morrerá.

A profecia jamais morrerá, aquilo que nós recebemos por herança não morrerá

Diga para quem está do seu lado: “A profecia jamais morrerá. Aquilo que nós recebemos por herança não morrerá. Agora, precisa viver em nós. Evidenciar em nós. Sermos mais marianos, mais carismáticos, mais decididos pela santidade e mais comprometidos com o anúncio da vinda gloriosa do Senhor”.

Muitas vezes, eu ouvi o Padre Jonas dizer, e eu quero terminar dizendo isso, Comunidade Canção Nova, amada Canção Nova: “Eu estarei na porta esperando cada um dos meus filhos; eu estarei na porta do céu”. Já que ele foi antes de mim, eu preciso batalhar para que eu não o decepcione, para que ele me encontre na porta do Céu, me recebendo quando eu for chamado. 

Essa é a responsabilidade que nós, como Canção Nova, precisamos assumir. Ele disse: “Eu não entrarei até que o último filho meu entre”. É claro que ele está no Céu, mas dizendo que vai estar na porta para receber cada um de nós.

“Eu desci do Céu, não para fazer a minha vontade, disse Jesus, mas a vontade daquele que me enviou; e esta é a vontade daquele que me enviou: que eu não perca nenhum daqueles que Ele me confiou.” 

Que eu não perca nenhum daqueles que Ele me confiou!”

Transcrição e adaptação: Ester Vieira

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