Homilia, na íntegra, da missa do dia 14 de dezembro das Exéquias de padre Jonas Abib, presidida por padre Sidney Dias
Amados irmãos e irmãs, nós temos o privilégio de nos reunirmos em torno do altar, contemplarmos as maravilhas de Deus que cada um de nós experimenta por meio de uma vida entregue, doada por um homem. Cada um de nós fez a sua experiência, porque aquilo que acabamos de ouvir no Evangelho, padre Jonas experimentou e encarnou no seu ministério.
Nós sabemos que a fama do monsenhor Jonas, antes conhecido como ‘Padre Jonas da Bíblia’, existe dentro da realidade própria, natural, da vida ordinária do padre, a experiência pessoal dele; e essa experiência pessoal com o amor de Deus é o que movimentou tudo na vida dele. Não a partir apenas da experiência extraordinária, mas ele fez da experiência extraordinária algo cotidiano, direto; e, no ordinário da vida, nós fomos experimentando a beleza do Evangelho em uma vida doada.
Nós acabamos de ouvir o Evangelho de São João, capítulo sexto. Esse capítulo é muito característico também para nós, porque, a partir de tantos atributos que nós poderíamos dar ao padre Jonas, também existe o atributo do homem eucarístico, do homem que nasceu a partir da experiência da Eucaristia. Mas eu nem queria falar da Eucaristia neste primeiro momento.
Neste capítulo sexto, nós temos um discurso do dom da vida, temos o discurso de Jesus que prepara o coração do homem para receber o maior prêmio do Ressuscitado, que é a Eucaristia. Mas aqui, neste trecho, nós escutamos Jesus falar à multidão: “Todos os que o Pai me confia virão a mim, e quando vierem, não os afastarei, pois eu desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade d’Aquele que me enviou”.
Padre Jonas, um exemplo do evangelho
Eis um trecho que nós vemos de forma escancarada na vida do padre Jonas. Por quê? Porque, no padre Jonas, isso é próprio de uma alma grande que se encontra com Jesus. O padre Jonas não deixou para si, no egoísmo do seu umbigo, a sua experiência pessoal com Jesus.
Um dia, além de todas as experiências que ele já viveu, ele se encontrou com um crucifixo quebrado. Nessa experiência interior, pessoal com o Crucificado, Este perguntou se ele queria ser Seu rosto, Suas mãos, Suas pernas. Nós vemos um homem que se deixa colocar dentro da sacralidade do chamado de Deus. Aqui, nós podemos caracterizar um homem que viveu o chamado ao Crucificado, e para isso precisou viver a inteireza, e um dos atributos que ele nos ensina, dentro da realidade ordinária de qualquer um que passou na vida dele, é o homem que é inteiro em tudo.
É a inteireza de ser aquilo que falta na vida de muitos, porque muitos ainda não encontraram o Crucificado. Portanto, a experiência do padre Jonas no extraordinário fez o padre sair do extraordinário para, no ordinário da vida, tocar os nossos corações a partir da inteireza. E o que é inteireza? É ser um homem de uma peça só.
Encontro com o crucificado que transbordava
O que nós víamos no padre Jonas, com este Centro de Evangelização lotado, era o que nós encontrávamos na sacristia, no decorrer da sua casa. Quando nós seminaristas íamos passar a Missa com o padre, ele era aquele homem de uma pessoa só, inteiro. É a inteireza de ser para você, naquele momento, como se só existisse você. Isso é próprio do homem maduro, do homem que conheceu Jesus e foi olhado nos olhos por Ele, a ponto de ter a sua vida transformada por esse crucifixo que olha para ele diz: “Propaga, aonde quer que você vá, o meu amor, porque prova de amor maior não há do que dar a vida pelos amigos”.
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Onde quer que nós encontrássemos o padre Jonas, ele era inteiro. Lembro-me do meu primeiro ano de juniorato, nos predinhos da Canção Nova. O padre Jonas caminhava; e a primeira vez que eu o vi, fiquei assustadíssimo – Meu Deus, o padre Jonas! –, e mais do que depressa eu disse: “Padre, sua bênção!”. Se fosse eu, se fosse qualquer outro, no meio da caminhada nós teríamos levantado o braço e dito “Deus abençoe”. Mas o padre Jonas não era assim. Ele não conseguia ser metade, não conseguia fazer duas coisas ao mesmo tempo. Ele, no sol daquela manhã, parou, virou, olhou para mim, olhou nos meus olhos e disse: “Deus te abençoe”.
Sempre aproveitava de todas as ocasiões
De uma bênção transformar o ordinário em extraordinário. Isso é próprio dos santos, daqueles que aproveitam todas as ocasiões para ser a propagação do Evangelho, para ser anunciador desse amor que ele viu por meio da cruz, que lhe foi estampado nos olhos, e os seus olhos não perderam o brilho. De uma bênção a uma conversa, ele perguntava com o que você estava trabalhando, o que estava fazendo, porque, da mesma forma que o padre Jonas olhou para aquele Crucificado há tanto tempo, ele olhava em cada pessoa humana que passava diante dele, olhava nos olhos e queria brotar neste olhar o amor da entrega de fazer a vontade de Deus. Por isso ele era um homem feliz, um homem bem-humorado, de muitas brincadeiras, porque sabia olhar para o crucificado e pedir para viver aquilo que faltava, a dor de Cristo.
Não podemos mais viver de qualquer jeito. Padre Jonas não pode passar, ele precisa ser eternizado, e será eternizado a partir das nossas experiências. Não podemos jogar essa pérola que nós recebemos de Deus, por meio da ordinariedade da nossa vida, aos porcos, porque padre Jonas nos ensina a ser um homem de uma peça só.
Sou fruto de um homem que se doou
Nas realidades que você vive, meu irmão, existe, é claro, a dor, a saudade, aquele pedaço que parece que arranca. Eu sou padre novo, tenho seis meses de padre, e o que eu mais pedi a Deus foi a graça de celebrar com ele, de vê-lo comungar da patena que eu consagrei. Mas eu sei que, agora, a Missa não acaba mais. Agora, é uma missa eterna, e o padre Jonas está nessa eterna missa, intercedendo pelo meu sacerdócio. E eu não posso negar que eu sou fruto de um homem que se doou a vida toda, de um homem que olha em nossos olhos e diz: “Vale muito a pena entregar a vida toda, ser inteiro em tudo, dar a Deus o que Ele merece, e não é mixaria, mas sim tudo.
Peçamos a Deus essa graça. Aqui, por muitos momentos, nós escutamos o padre Jonas falar do Evangelho com muita intimidade, e a primeira pergunta que precisa ser feita para nós, filhos do padre Jonas, que experimentamos do seu sacerdócio, que experimentamos do seu amor ordinário, transformando o ordinário no extraordinário, é dizer: Como eu tenho aproveitado o Evangelho? Como eu tenho brotado o que a Palavra, hoje, me ensina? Como eu tenho passado pela vida dos meus irmãos e deixado marcas? Porque o padre Jonas, onde passou, deixou marcas. Pergunte até mesmo no hospital onde ele se encontrava, se ele não deixou marcas. Porque é próprio do amor se doar, é próprio do amor não regular mixaria, não guardar para si, mas doar-se, entregar-se, ofertar-se.
E a primeira coisa que nós queremos pedir a Deus, nesta celebração Eucarística, é claro, é o sufrágio da sua alma. Nós pedimos pela alma do padre Jonas, mas pedimos, Jesus, a graça de sermos homens inteiros, com essa inteireza própria de quem experimentou o Amor, de alguém que experimentou o amor de Deus e não é mais de viver de qualquer jeito, não é capaz mais de passar pela vida do outro com a pressa do trabalho e das atividades que temos que fazer. Porque, por mais que o padre Jonas caminhasse ligeirinho, ele parava, fixava seu olhar em nós e nos era inteiro.
Por isso eu pergunto para mim e para você: Como você tem vivido no ordinário da sua vida? Nas realidade que você vive dentro da sua casa, do seu trabalho, da sua escola, da sua faculdade? Você tem vivido essa inteireza de alguém que se deu por inteiro, que não guarda reserva para si, que não guarda energia, mas que se gasta, que se doa, porque não veio para fazer a sua vontade, mas fazer a vontade do Pai, e a vontade do Pai é que não percamos nenhum. Por isso o homem que experimenta o crucificado é um homem inteligente, sábio, porque não desperdiça oportunidades.
Como você tem desperdiçado, onde você tem desperdiçado suas oportunidades? Porque o padre Jonas não perdia tempo em nada. E você, na sua consagração, na realidade da sua vida, como você tem vivido?
Peça ao Senhor, na graça deste sacramento que iremos comungar, a graça de Deus de não perder mais tempo. E que todas aquelas pessoas que passam na sua vida, por um olhar ou um sorriso, e até mesmo num abraço, não passe mais despercebido, não passe mais de qualquer jeito. Peçamos a Deus a graça de não perdermos tempo, de não desperdiçarmos a graça que é própria daquele que se encontra com o Crucificado, porque quem se encontra com Ele sabe que não há ninguém capaz de amá-lo como o Crucificado amou. Por isso ele precisa propagar para todos este amor de Cristo que se doa, que arranca pedaços, porque amar é isso, é arrancar pedaços.
Se nós não temos a graça, a ousadia de dar o nosso tempo aos nossos irmãos, nós não daremos a nossa vida por ele.
Peçamos, nesta Eucaristia, a graça desta inteireza de dar tudo, mas para isso nós precisamos também, a partir do padre Jonas, como o padre Jonas, fazer a nossa experiência com o amor de Deus, porque assim não viveremos a partir do que ouvimos dizer d’Ele, mas os nossos olhos enxergarão o Crucificado.
Peçamos, nesta Eucaristia, a graça de encontrarmos Jesus, de sermos Seus pés, Seu rosto, a extensão desse amor que se doa, que se sacrifica, que dá tudo, não guarda nada para si a partir do ordinário da nossa vida.
No mais profundo do seu coração, olhe para dentro de você e perceba como tem perdido tempo.
Transcrição e adaptação: Michele Mimoso