Exéquias Padre Vicente de Paula - Betânia

O carisma já está fundado. Que alegria!

Homilia, na íntegra, da Missa do dia 14 de dezembro das Exéquias de padre Jonas Abib, presidida por Padre Vicente de Paula.

A saudade é registro no nosso coração 

Aqueles a quem a dor da saudade entristece a certeza da Ressurreição consola. Essa é a primeira palavra sobretudo à família Canção Nova.  Tenho a certeza da força da ressurreição, e somos homens e mulheres do ressuscitado. A força da Ressurreição será o grande consolo nessa hora de saudade.  Agora, como testemunho pessoal, eu digo que a saudade fica, não passa, mas saudade é coisa boa, é registro no nosso coração de que a gente amou de verdade, que a gente amou para valer, que a gente amou e amou muito. Então, não tem jeito de passar a saudade, porque nós amamos muito o Monsenhor Jonas Abib.

O Brasil ama muito Monsenhor Jonas Abib, as comunidades de vida e aliança amam muito Monsenhor Jonas Abib, e sentiremos muitas saudades, mas saudade envolvida na força do ressuscitado.

A segunda palavra é gratidão. Gratidão porque, há 15 anos, vivendo um momento parecido com esse, sem saber muito quase nada, eu tive uma inspiração que, com certeza, veio de Deus, veio do Espírito. E é pensando nisso que eu queria muito, muito, partilhar de coração, nesse momento, e peço licença a todos para fazer essa partilha.

Experiência da perda de um pai 

Há 15 anos, num momento muito parecido como esse, sem saber muito para onde, como e o que seria da nossa família Betânia, Deus me inspirou na missa de despedida do Padre Léo algo muito significativo para mim. Eu perdi o meu pai aos 40; ele, aos 45 anos de idade, e foi muito duro. Eu, seminarista na época, essa foi a única vez que eu pensei em sair do seminário. Na época, padre Léo foi o suporte que me fez ir adiante e assumir a minha missão. Mas, de repente, eu estava na mesma situação, perdendo, por assim dizer, um segundo pai também aos 45 anos de idade. Ali, com toda uma missão pela frente, olhando o Monsenhor Jonas, naquela época no auge dos seus 70 anos, com todo aquele vigor, Deus me inspirou e eu tive um lampejo de inteligência. Naquela missa, disse para ele na frente de todo mundo: “Monsenhor, perdi um pai aos 40; perdi o segundo aos 45; não vou perder mais, não vou fazer mais do mesmo jeito. De hoje em diante, eu elejo para o meu coração um pai de 70 anos, porque assim eu vou ficar mais garantido, e dizia isso porque olhava para o Monsenhor  Jonas e sentia, por força da inspiração de Deus, que era por ali que Deus queria me conduzir, sobretudo conduzir a comunidade Bethânia.

Monsenhor Jonas era um pai para a Comunidade Bethânia

Quando eu terminei de falar, ele veio, me abraçou e disse assim: “Pois eu acolho. Você é meu filho e a comunidade Bethânia também”. Isso já faz 15 anos. Desde então, não teve um só ano em que eu não me sentisse cuidado pelo pai, na época, Padre Jonas; depois, Monsenhor Jonas. Faz 15 anos que, através da Canção Nova, principalmente destaco todos os consagrados e consagradas da Canção Nova, Eto e Luzia, nós somos testemunhas do cuidado que nos chega como família Betânia através da família Canção Nova.

E o que eu mais escutei aqui, nesse território Eucarístico, nesse solo sagrado, é que somos comunidades irmãs, somos irmãos, e eu dizia sempre: somos mesmos irmãos, temos um pai em comum. Na minha mesa de trabalho, lá em Santa Catarina, bem de frente diante da minha cadeira, tem um quadro do Monsenhor Jonas abraçado ao padre Léo. A gente não sabe, olhando para aquele quadro, quem abraça quem, se é o Monsenhor que abraça o padre Léo, ou se é o padre Léo que abraça o Monsenhor Jonas, e é exatamente assim que, olhando para a comunidade Bethânia, e para a família Canção Nova, nós nos sentimos abraçados.

 

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Um pai para as novas comunidades  

Mas essa paternidade não é só em relação a mim ou a Betânia, o coração de pai do Monsenhor Jonas Abib era tão grande, que quantas comunidades de vida e aliança couberam e se sentiram cuidados pela força da paternidade do Monsenhor Jonas Abib! Essa paternidade de coração é importante sobretudo na Igreja do Brasil, como um pioneiro que ele é, como vértebra carismática da Igreja do Brasil, e que sai da Igreja do mundo.

Certa vez, exercendo essa paternidade, e não sei como ele soube que nós em Betânia estávamos pensando em dar um passo. Na época, eu nem tinha tomado consciência e destoava um pouco daquilo que é a originalidade, vamos dizer assim, das novas comunidades.  E é uma partilha sincera que, na época, nós padres, já estávamos, no coração, com o desejo de fazer uma Fraternidade sacerdotal, e Monsenhor Jonas soube disso. Aí, ele e a Luzia, pregando um retiro para nós em Betânia, em São João Batista, quase no final do retiro, ele me chamou no quarto, lá na casa do Ideraldo da Margarida, cofundadores de Betânia, sentado na cama, ele me colocou do lado dele e disse assim: “Filho, me perdoa, mas eu preciso lhe dizer como pai: não foi isso o que o Espírito Santo pediu às novas comunidades”.

Um homem cheio de autoridade e do Espírito Santo 

E aí ele falou do batismo no Espírito, falou de viver da providência de Deus; depois, ele disse de dar um testemunho para o mundo de fraternidade profunda onde coubessem todos os estados de vida. Então, não permita, buscando o caminho mais fácil, não permita, filho, que, separando-se dos irmãos como uma fraternidade sacerdotal, corra o risco de ferir a vontade de Deus para as novas comunidades. É preciso mesmo que seja duro, difícil mesmo, e que vocês tenham que esperar a vontade do bispo, que se cumpra a vontade de Deus e permaneça naquilo que Ele pediu às novas comunidades.

Eu abaixei a cabeça, ajoelhei-me aos pés dele, pedi uma bênção e disse: “Pois, então, está feito. Será assim, Monsenhor. Eu vou esperar a vontade de Deus, porque eu tenho certeza que passa pela sua paternidade, e de fato nós fizemos em Betânia. Por isso termino dizendo que Monsenhor Jonas, para nós em Betânia, muitas e muitas vezes, até de forma silenciosa, porque, no meu jeito acanhado, meio mineiro escondido, eu, muitas vezes, tinha até vergonha de me aproximar.

Iluminava carismaticamente as novas comunidades 

Nós nunca tiramos os olhos do Monsenhor Jonas, porque a imagem que me vinha é que Monsenhor Jonas, com a sua exemplaridade, com seu testemunho, era, para as novas comunidades, para a vértebra carismática da Igreja, como as luzes à noite no aeroporto – sabe aquelas luzes na pista, quando você vai descer, aterrissar o avião nos aeroportos e é noite, e o piloto seguia pelas luzes da pista? –, pois nós sabemos, como comunidades de vida e aliança, que, muitas e muitas vezes, Monsenhor Jonas foi e é para nós como essas luzes na pista, para podermos aterrissar bem, pousar bem o avião que Deus deixou em nossas mãos.

Termino como disse, lembrando que, no céu, agora, há uma dobradinha olhando por nós. Fiquei imaginando, desde ontem, a festa no Céu; fiquei imaginando, desde ontem, aquele abraço que eu vejo diante dos meus olhos quando sento para trabalhar na minha mesa, acontecendo no céu, e os dois alegres incomodando os anjos e olhando para nós e dizendo: “Eles não vão ficar desamparados, não faltarão as luzes, porque, na força do Espírito, ele seguirão aquilo que foi plantado pelo Carisma no coração de cada um deles, seja a família Canção Nova, seja a família Betânia. Por isso, mais uma vez, eu quero pedir que você grite comigo: “Muito obrigado, Monsenhor Jonas! Muito obrigado, Monsenhor Jonas, pelo seu
testemunho”.

Transcrição e adaptação: Wesley Moreira 

Assista à Santa Missa de Corpo Presente do Monsenhor Jonas Abib – Padre Vicente de Paula

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